Os ingleses adoram tradições. Recusaram-se a aderir ao euro. Ainda dirigem com o volante do lado direito dos carros. Pesam os produtos em pounds e não em quilos. Há 100 anos não erguiam um trecho novo da vasta malha ferroviária. Deu-se, na semana passada, um evento histórico. Foi inaugurada a primeira fase de uma ramificação, da litorânea Dover a Londres, que até
2007 sugará US$ 3 bilhões. São trilhos com bitola mais estreita
que as antigas. Não é pouca coisa. A novidade trouxe a reboque, como uma locomotiva do futuro, um recorde: desde 28 de setembro o Eurostar, o trem que liga Paris e Londres, faz a viagem em apenas 2h35 ? um ganho de 20 minutos em relação ao tempo anterior. O comboio só não fazia a travessia com velocidade maior por culpa dos súditos da rainha. Ele saía a 300 km/h da França, invadia os 30 quilômetros do Túnel do Canal da Mancha, debaixo do mar, nesse mesmo ritmo, até entrar na Inglaterra. Ali, diante da veneranda configuração ferroviária, era forçado a reduzir a toada: corria a meros 100 km/h, atrasando a viagem.

Os 20 minutos parecem nada, mas marcam uma pequena revolução. ?É como um renascimento do Eurostar, da travessia de trem entre Inglaterra e França?, resumiu o primeiro-ministro Tony Blair. O Eurostar tem 60% do tráfego entre os dois países. Imagina-se que, com a inauguração da semana passada, chegue a pelo menos 70%. Falta, ainda, a reforma de outros 74 quilômetros até o centro de Londres. Quando isso acontecer, o Eurostar dominará 8 a cada 10 viagens de trem pela Mancha. O avanço tecnológico inaugurado na semana passada foi celebrado, na Inglaterra, como o mais espetacular desde a inauguração do Túnel, uma das grandes obras de engenharia da civilização, em maio de 1994.