Com essa a Embraer não contava. O executivo que está fazendo a arqui-rival Bombardier voar alto na América Latina é brasileiro. Brasileiro e ex-funcionário da própria Embraer. O nome é Fabio Rebello, um paulista de 46 anos, engenheiro aeronáutico formado pelo ITA e atual dono da cadeira de vice-presidente da divisão de jatos executivos da companhia canadense. Sob seu comando, a região se transformou na terceira operação mais importante dessa área da Bombardier ? atrás apenas de Estados Unidos e Europa. Hoje, os aviões executivos da rival da Embraer detêm 27% de participação na América Latina. Mas Rebello quer mais. A meta é chegar aos 30%, explorando principalmente o potencial brasileiro. ?O País é, hoje, um dos principais compradores de jatos executivos do mundo?, explica Rebello. Dos US$ 12 bilhões que essa indústria movimenta no planeta, US$ 800 milhões são no continente e ao Brasil cabe US$ 300 milhões dessa cifra gigantesca. Para turbinar as vendas, ele vai colocar no mercado local toda a linha de produtos da Bombardier. O modelo Learjet, campeão de vendas nos trópicos, terá a companhia, por exemplo, do Global 5000, maior (capacidade para 9 passageiros) e mais avançado. É uma das grandes apostas do executivo. E dá para entender o porquê: enquanto o Learjet custa cerca de US$ 8 milhões, o Global 5000 pode chegar a US$ 47 milhões.

Se o preço dos aviões já anima o executivo, imagine quando a Bombardier resolver tirar o seu mais novo projeto da gaveta: a construção de uma fábrica no Brasil. Apesar de evitar detalhes, Rebello afirma que a multinacional canadense foi procurada por representantes de um Estado brasileiro bastante industrializado no início deste ano. E a resposta do vice-presidente da América Latina aos governantes locais foi clara: ?Primeiro, é necessário desenvolver um pólo tecnológico. Antes disso, não há discussão?. Mas a julgar pelo sorriso e a reserva nos comentários, Rebello está realmente disposto a levar adiante o projeto industrial e acirrar a disputa com a Embraer na região.

O homem que ?voa com o inimigo? pilota a operação latino-americana a partir de um escritório em Dallas, nos Estados Unidos. Mudou-se para lá em 2002, quando deixou a diretoria de vendas na América do Sul e passou a exercer a vice-presidência de jatos executivos na América Latina. Guarda saudades do Brasil, dos tempos da Embraer, onde iniciou sua carreira, e dos amigos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Moldou sua carreira na aviação. Depois da Embraer e antes da Bombardier, representava a americana Raytheon na América do Sul. Sobre o fato de trabalhar para a grande rival da fabricante brasileira, Rebello diz: ?Não vejo problema. Deveria ser motivo de orgulho para os brasileiros ver um compatriota ocupando uma posição relevante numa grande multinacional?. O passaporte para entrar na primeira classe de uma companhia que fatura globalmente US$ 15,8 bilhões, sendo US$ 7,9 bilhões só em aviação, veio justamente com o trabalho desenvolvido por ele na América Latina. Antes do brasileiro, os negócios da companhia por aqui arrancavam bocejos na matriz.

Ele buscou novos mercados, estreitou o relacionamento com os clientes, afinou a tabelinha com parceiros importantes como a Ocean Air, representante dos canadenses no Brasil. Assim, a América Latina chegou ao terceiro lugar do ranking mundial de vendas da companhia. O mercado brasileiro teve papel fundamental nessa arrancada. Números da consultoria Jet Net comprovam o crescimento: dos 274 pedidos latino-americanos feitos para a Bombardier em 2004, 75 vão pousar no Brasil. E dos 223 jatos executivos (de todas as marcas) entregues nos últimos cinco anos na região, 46 levaram a insígnia da multinacional canadense.

BILHÕES NO AR

US$ 800 milhões é quanto movimenta o setor na América Latina

US$ 12 bilhões é o tamanho do mercado mundial de aviação comercial

US$ 300 milhões é o faturamento da indústria de jatos executivos no Brasil