21/01/2004 - 8:00
“Para ter autonomia, o Sukhoi usa o triplo do combustível dos concorrentes”
“Podemos fazer um acordo de longo prazo com a Embraer do sr. Maurício Botelho”
DINHEIRO ? Por que comprar o Gripen?
Ian McNamee ? A principal exigência do pedido que recebemos da Força Aérea Brasileira é a de um avião de múltiplo uso. Ele tem de ser capaz de atacar um inimigo, defender o território e patrulhar fronteiras. Nosso caça atende a todos esses requisitos, com vantagens sobre os concorrentes.
DINHEIRO ? Há alegações de que seu caça é inadequado às dimensões continentais do Brasil, pela baixa autonomia de vôo.
McNamee ? O alcance do Gripen é muito similar ao do Mirage e
do F-16. Aceito que, em comparação com o Sukhoi, a autonomia
do nosso caça é menor. Porém, o Sukhoi é três vezes maior do
que todos os concorrentes e precisa de três vezes mais combustível para ser operado em vôo. Uma outra crítica que tem aparecido é
a de que o Gripen não tem capacidade de ser abastecido no ar. Inverdade. Nosso caça possui um sistema para completo reabastecimento durante o vôo.
DINHEIRO ? Há uma vantagem econômica do Gripen sobre os concorrentes?
McNamee ? O custo da hora voada do nosso caça é extremamente baixo. Posso citar, como ordens de grandeza, que uma hora do Gripen em vôo custa US$ 2,3 mil, enquanto esse preço sobe para US$ 8 mil no caso de um F-16 americano e é de US$ 25 mil para o Sukhoi. Ou seja, voar num Gripen é dez vez mais barato do que num Sukhoi.
DINHEIRO ? O Gripen é elogiado pela aviônica embarcada. Como são os seus radares e instrumentos?
McNamee ? Tudo é de novíssima geração. Tudo é digital. Ele pode ser operado de maneira muito específica, de acordo com cada operação. Diante dos nossos concorrentes no Brasil, nossos radares têm mais alcance do que qualquer um. O governo sueco entregou ao governo o mapa da performance dos nossos radares e suas capacitações. Em comparação com o Mirage, nosso radar é de cinco a dez vezes mais potente.
DINHEIRO ? O Mirage é favorito, por isso está na sua mira?
McNamee ? Não sei. Leio as diversas reportagens que saem a respeito, converso com diferentes pessoas e em certo momento ouço muito sobre o Mirage, em outro escuto sobre o Sukhoi. Meu palpite diz que o Mirage é o principal concorrente, por causa da Embraer, que é uma companhia de classe mundial.
DINHEIRO ? A Embraer alega que só quem irá transferir tecnologia ao Brasil é a Dassault, fabricante do Mirage.
McNamee ? Isso não é verdade.
DINHEIRO ? Os srs. estão dispostos a transferir tecnologia?
McNamee ? Quero enfatizar que não sei sobre que tipo de transferência tecnológica a Embraer está falando. Da nova tecnologia? Da velha? Não tenho idéia. Nós estamos dispostos a transferir a tecnologia do mais moderno software que é utilizado neste aparelho. Nossa proposta ao governo brasileiro detalha exatamente tudo aquilo que nós queremos transferir. Fomos muito claros neste ponto. O que vamos transferir vai permitir aos brasileiros todo o controle do sistema de armas que vocês vão utilizar.
DINHEIRO ? Com o Gripen, o Brasil terá acesso aos códigos-fontes, que permitem o controle dos principais softwares?
McNamee ? Sim. Faz parte da nossa proposta de transferência tecnológica, inclusive a instalação aqui no Brasil de um Centro de Desenvolvimento Gripen.
DINHEIRO ? Os motores que equipam os Gripen são americanos ? e os americanos não transferem tecnologia. Isso não seria uma limitação insuperável?
McNamee ? Usamos motores básicos da General Electric, modificados e desenvolvidos pela Volvo da Suécia. Não há embargo sobre esses motores. A GE tem, inclusive, instalações no Brasil, capazes de dar toda assistência técnica.
DINHEIRO ? E quanto às armas? O Gripen carrega armas americanas.
McNamee ? Em nossa proposta, oferecemos um leque com-
pleto de opções de armas que não são americanas. Nosso pa-
cote inclui armas de Israel, da Suécia, da África do Sul, da Inglaterra e mesmo da França. Todas essas armas já estão integradas ao sistema Gripen. O nosso caça as comporta, conhece e trabalha
com elas sem problemas.
DINHEIRO ? O Gripen é um caça considerado pequeno. Isso não é um problema?
McNamee ? Uma coisa que as pessoas esquecem é que o Gripen foi projetado para operações em áreas sem nenhuma estrutura. Ele pode pousar em estradas e terrenos acidentados. Seu reabastecimento completo em solo demora apenas 15 minutos. Trata-se de um avião que não precisa de bases aéreas e grandes infra-estruturas. Ele foi desenvolvido para realizar operações com a máxima agilidade.
DINHEIRO ?A Embraer afirma que já atingiu praticamente o teto do que permite a tecnologia de aviões subsônicos. A Gripen estaria disposta a ensinar a Embraer a voar acima da velocidade do som?
McNamee ? Se nós tivermos uma relação de longo prazo com o Brasil, e se a Embraer vier a ser nossa parceira ? especialmente se estamos falando da compra de até 100 aparelhos, e não apenas 12 ?, nós não teríamos problemas em mostrar à Embraer como desenvolver tecnologia supersônica dentro da empresa e dar suporte para que ela apóie o Gripen dentro do Brasil.
DINHEIRO ? Os srs. têm mantido contatos com a Embraer?
McNamee ? Não, mas se vencermos estamos abertos para conversações, sempre sujeitos à concordância do governo bra-
sileiro. Até o momento, a Embraer nunca nos pediu nada. Quando tentamos abordar a empresa, por meio da Saab, a companhia presidida pelo sr. Maurício Botelho informou não haver disposição
para falar neste momento.
DINHEIRO ? O que mais o Gripen oferece?
McNamee ? Nosso caça está no começo de sua vida. A primeira entrega deste aparelho começou agora, quatro meses atrás. O que oferecemos ao Brasil é a versão exportação de um avião que vai permanecer no mercado pelos próximos 30, 40 anos, sendo usado por vários países. Eu não acredito que o Mirage continue em operação dentro de 30 ou 40 anos. O Mirage simplesmente não tem um caminho programado de up grades. Também quero acrescentar que o Mirage não é um avião ruim. Acho apenas que é um avião velho. Só isso. É da geração antiga.
DINHEIRO ? Para a compra, dá-se muita importância à proposta de off set, o pacote de compensações comerciais ao Brasil oferecido pelo(s) governo(s) vendedor(es) dos caças. Como é a proposta da Gripen?
McNamee ? O detalhe que eu poderia revelar é que nós oferecemos um off set no mínimo igual ao valor da concorrência. Ele consistiria num off set diretamente relacionado com o aparelho, a abertura dos códigos-fontes e também com ofertas de produtos não relacionados diretamente ao aparelho. Isso tem a ver com a disposição das companhias suecas e inglesas em investirem no Brasil. Combinadas as experiências da BAE Systems e da Saab, temos cerca de 40 anos de atuação segura na área de off set. Nunca deixamos de atender uma obrigação relacionada à compensação comercial. Nós gastamos cinco anos de investimentos no Brasil trabalhando com diferentes empresas através do sistema de off set. Faremos um belíssimo trabalho neste campo. Consideramos absolutamente natural que os governos procurem as compensações do off set numa compra desta natureza.
DINHEIRO ? A concorrência já se arrasta por três anos. É muito estressante participar deste processo?
McNamee ? Sim. Todas as situações em torno da concorrência
são estressantes. As decisões que envolvem a escolha deste
tipo de produto são muito complexas. E não há decisões fáceis.
Nós operamos em todas as partes do mundo e em todos os países vivemos situações difíceis.
DINHEIRO ? Há, no atual governo brasileiro, um forte componente de nacionalismo. Será que a concorrência já não estaria decidida em favor da Embraer?
McNamee ? Sempre há essa possibilidade. Mas nacionalismo
não precisa significar que você vá escolher alguma coisa que seja velha e chame isso de campeão nacional. Nacionalismo, no meu
ponto de vista, é uma escolha que garanta o futuro. Nós fizemos
uma oferta excelente ao governo brasileiro. A Força Aérea analisou nosso caça em todos os detalhes, com profundidade e qualificação. Estou convencido de que a avaliação foi correta e tecnicamente muito competente.
DINHEIRO ? O que o sr. achou da qualidade técnica das indagações?
McNamee ? As pessoas da Força Aérea com as quais tivemos relacionamento são das mais qualificadas entre todas as que conhecemos no mundo. Sempre foram muito específicas. Jamais acreditaram realmente em nossas informações até comprovar por eles próprios, em testes no avião, que aquilo era verdadeiro. O Brasil enviou à Suécia três ótimos pilotos. Eles realizaram testes no limite máximo da nossa capacidade.
DINHEIRO ? Calcula-se que um caça supersônico, sem armas,
custe aproximadamente US$ 30 milhões. Confere?
McNamee ? Sim. Dependendo da configuração, esse é um
número bastante razoável.
DINHEIRO ? Como anda o desempenho comercial da Gripen?
McNamee ? Em julho oferecemos esse avião à República Tcheca
e antes do Natal fomos selecionados para fornececer 14 aviões ao país. Para a África do Sul, vendemos 28. No mundo, colocamos 54 caças Gripen nos últimos quatro anos.
DINHEIRO ? Se vencer, em quanto tempo a Gripen entrega o primeiro aparelho?
McNamee ? Trinta e seis meses para o primeiro e mais 12 meses
para completarmos o pacote de entrega de 12 caças.
