18/11/2009 - 8:00
O acesso é difícil, as estradas são um verdadeiro caos e em alguns lugares não há, sequer, energia elétrica. Mas ainda assim esse fim de mundo se tornou sinônimo de grandes investimentos numa espécie de Eldorado. Essa é a região do “Mapito”, onde Maranhão, Tocantins e Piauí convergem num imenso planalto de terras agricultáveis e de chuvas regulares – um paraíso para os agricultores.
Nos últimos anos, esse enorme pedaço de chão tem acolhido dezenas de grandes corporações agrícolas, cujos faturamentos são superiores a R$ 100 milhões. SLC Agrícola, Multigrain e Vanguarda do Brasil são exemplos – todas com faturamento acima dos R$ 300 milhões. Entre as principais atividades dessas empresas, assim como outras fazendas daquela região, estão o plantio da soja, de milho e algodão.
Mas a prova de que a região entrou no mapa dos grandes negócios aconteceu na última quarta- feira quanto dois gigantes do campo – a brasileira Amaggi e a francesa Louis Dreyfus – formaram uma joint venture que atuará no Mapito e adjacências com a comercialização dos grãos produzidos naqueles prados. Só no primeiro ano eles pretendem faturar R$ 700 milhões. Nos próximos 48 meses serão investidos US$ 100 milhões para a construção de 12 unidades de beneficiamento para concorrer com outras tradings como Bunge, Cargill e ADM.
A história do “Mapito” é recente na agricultura brasileira. Há dez anos, a região ainda era pouco explorada e as dificuldades logísticas não colaboravam para seu desenvolvimento. Mas o avanço das tecnologias de produção e a chegada de novos investimentos fez o lugarejo desabrochar e hoje ele é uma promissora fronteira agrícola do País.
“É um novo Eldorado, com um potencial de crescimento muito grande”, disse à DINHEIRO Pedro Jacyr Bongiolo, presidente do Grupo Amaggi, cuja estratégia é atuar em todos os Estados produtores de soja. Kenneth Geld, CEO da LDC, confirma: “É um lugar estratégico para quem atua no mercado de commodities agrícolas.”
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Joint venture: Geld, da Dreyfus, e Bongiolo, da Maggi, vão investir US$ 100 milhões no Mapito |
Segundo a analista de mercados Jacqueline Bierhals, da AgraFNP, a região tem crescido a passos largos, puxada principalmente pelo que se chama de empresário rural. “É aquele investidor que vê na agricultura uma atividade como outra qualquer e decide investir”, explica.
Sérgio Bueno é um exemplo. Sua família é dona de 40 mil hectares na Chapada das Mangabeiras, no Estado do Tocantins. Além disso, também possui uma corretora que atua na bolsa de valores e no gerenciamento de fundos de investimentos.
O projeto rural se chama Agrícola Rio Galhão e está cravado no coração do Mapito. Há quem diga, no entanto que essa macrorregião é ainda maior, se estendendo até o oeste baiano. “Já estamos chamando a região de Matopiba”, revela Jacqueline. A presença de grupos estrangeiros também é marcante em toda essa mancha (ver mapa).
No município de Roda Velha (BA), o americano Scot Shanks, por exemplo, é dono de uma fazenda de dez mil hectares de soja e compara a região ao Meio Oeste americano no fim do século XIX. “Aqui há muitas vantagens, mas o preço da terra é realmente um dos mais atraentes”, explica. Em relação a Ilinois (EUA), o custo é praticamente de 10% e se comparado às valorizadas terras de Ribeirão Preto, em São Paulo, o valor do hectare não chega a 25% do encontrado nas terras paulistas.
“O Mapito é o futuro da agricultura brasileira porque realmente oferece vantagens competitivas importantes”, diz. Bongiolo concorda. “Serão necessários investimentos na região, principalmente na infraestrutura, mas mesmo assim acreditamos que haverá um grande crescimento nos próximos anos”, diz.