Nesta quarta-feira, dia 19 de abril, chegamos a mais uma data que deveria ser menos comemorativa e mais política. O Dia dos Povos Indígenas do Brasil entrou para o calendário para marcar o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano que aconteceu em 1940, no México. O objetivo era reunir os líderes indígenas das diferentes regiões do continente para defender os direitos de seus povos. Ainda que alguns pleitos tenham avançado, há muito o que se discutir e defender. A inserção dos indígenas no mercado de trabalho é uma deles.

Do macro para o micro, um olhar sobre a América Latina dá uma pista sobre o tamanho do problema. Na região onde vivem 55 milhões de indígenas, cerca de 67% trabalham de alguma forma. O problema é que dentro desse grupo 85% trabalham no mercado informal e ganham 33% menos do que a população não indígena. Os dados fazem parte do estudo Panorama Laboral dos povos indígenas na América Latina: a proteção social como rota para uma recuperação inclusiva da pandemia da Covid-19, publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

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A situação não é diferente no Brasil. Em levantamento conduzido por Janaína Feijó, da FGVIbre, está documentado que a população indígena é a que tem a menor taxa de participação no mercado de trabalho: 59,7% contra 63,2% entre brancos e amarelos e 62,3% entre negros (pretos e pardos). De novo a informalidade é uma característica latente, com taxa de 48,5%. Para comparação, entre negros é de 44,5%, e a de brancos e amarelos corresponde a 33,3%.

Estatisticamente, a diferença não parece tão grande assim. Mas considere que no Brasil mais de 110 milhões de pessoas se declaram negras e 95 milhões, brancas. Já a população indígena, segundo o último censo do IBGE de 2010, é de cerca de 900 mil brasileiros. Diante do total, os indígenas empregados ficam quase invisíveis.

Se o recorte é por grandes corporações, o problema fica ainda pior. De acordo com o Instituto Ethos, somente 1% do quadro de funcionários das 500 maiores empresas do País é composto por indígenas, sendo que nos cargos de gerência e supervisão a participação cai a 0,1%. Entre conselheiros? Nenhum.

Ainda que um texto repleto de estatísticas seja maçante, os númeroESGs comprovam o que vemos: a maior parte de nós nunca trabalhou com um indígena. Nunca conheceu um indígena. Falamos deles alimentados por uma construção histórica enviesada e cheia de estereótipos. Repeti-los nem vale a pena. Mas reconsiderar nossa postura e tentar de alguma forma influenciar nosso ambiente de trabalho para que a inclusão de representantes dos povos originários passe a ser também feita de maneira estruturada pode ser uma forma de trazer mais representatividade ao mundo corporativo.