Após alguns meses fracos, o mercado internacional de títulos de dívida voltou a se abrir para o Brasil. Na segunda-feira 11, o banco Santander Brasil captou R$ 750 milhões com bônus internacionais pagos em reais, que vencem em 2016. Os juros serão de 8% ao ano, um pouco acima das taxas referenciais no mercado brasileiro. “Foi uma oportunidade de acessarmos um mercado pouco líquido, para manter uma boa diversificação de nossas fontes de recursos”, diz Alvaro Carbajosa Fernandez, superintendente executivo financeiro do Santander, controlado pelo banqueiro espanhol Emilio Botín. A demanda foi forte e as encomendas chegaram a R$ 1,75 bilhão. 

 

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Emilio Botín, CEO do Santander: filial brasileira do banco

capta R$ 750 milhões em bônus

 

No dia 8 de março, a Cosan, do empresário Rubens Ometto, captou R$ 500 milhões por meio de um bônus denominado em reais com prazo de cinco anos, pagando juros de 9,625% ao ano, aproximadamente 110% dos juros de mercado medidos pelo Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI). Também nesse caso, a demanda superou o dobro da oferta. Algumas semanas antes, o banco BTG Pactual captou R$ 1 bilhão em um bônus de sete anos denominado em dólares, pagando juros de 4,125% ao ano. A meta era pagar taxas de 4,5%, mas a demanda tão forte permitiu reduzir a remuneração. A boa rentabilidade explica esse apetite. Mesmo os investidores abonados, que têm mais de R$ 1 milhão para aplicar, têm tido dificuldade para obter remunerações superiores a 100% do CDI, o que torna esses títulos internacionais uma alternativa rentável. 

 

Vale a pena investir nesses papéis brasileiros lá fora? A resposta é sim, desde que o comprador tome alguns cuidados. “Comprar um eurobônus brasileiro faz sentido desde que os juros pagos sejam compatíveis com o risco do papel”, diz José Eduardo Martins, da empresa de assessoria financeira GPS, associada ao banco suíço Julius Baer. As grandes empresas brasi-leiras têm sido frequentadoras assíduas do mercado internacional de títulos de renda fixa desde 1991, quando a Petrobras inaugurou as captações privadas do Brasil. A boa remuneração e o risco baixo atraem compradores de todo o mundo, mas os discretos proprietários de boa parte desses papéis são 100% brasileiros. 

 

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Rubens Ometto, da Cosan: captação de R$ 500 milhões

pagando 9,625% ao ano e havia demanda

para mais que o dobro do total oferecido

 

São investidores que moram e trabalham no País, mas que mantêm recursos lá fora para proteção do patrimônio ou para diversificação, algo que é perfeitamente legal. Embora a maioria dos investimentos iniciais seja de modestos R$ 300 mil, a aplicação média vem oscilando ao redor de R$ 1 milhão. Fazer uma aplicação desse tipo é simples. O investidor tem de abrir uma conta internacional, em um banco europeu, americano ou sediado em algum paraíso fiscal, e remeter o dinheiro para lá. Uma vez que o capital esteja registrado, comprar e vender esses papéis é idêntico a dar uma ordem de compra para um corretor de ações no Brasil. O que é um pouco mais complicado é cuidar da tributação.

 

Mesmo que o dinheiro esteja legalmente em um paraíso fiscal e seja isento de impostos, o Brasil tributa esses investimentos de forma idêntica à que taxa um investimento em imóveis. “O investidor está sujeito a dois impostos, um deles incidindo sobre os ganhos de capital e outro sobre os rendimentos”, diz o advogado tributarista Roberto Justo, sócio do escritório paulista Choaib, Paiva e Justo Advogados Associados. Se comprar e vender um título com lucro, seja pela valorização do papel, seja pelo ganho com a variação do dólar, o investidor paga 15% de imposto referente ao ganho de capital. Já os rendimentos periódicos têm de pagar 27,5% de imposto (observe o quadro “Como funciona a tributação”). 

 

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Justo recomenda bastante atenção ao declarar esses investimentos, pois a fiscalização é eficiente e vai ficar mais dura: na terça-feira 13 foi publicado o Decreto Legislativo 211 que aprova um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para o intercâmbio de informações fiscais. Depois de um sono de quase seis anos, pois o acordo havia sido aprovado em março de 2007, a Secretaria da Receita Federal e o seu equivalente americano estão livres para comparar o que os investidores fazem aqui e lá. “As informações do investidor brasileiro que tiver recursos nos Estados Unidos vão estar à disposição da Receita”, diz Justo. Complicações à parte, o mercado internacional de renda fixa oferece oportunidades muito boas. 

 

É o mercado mais líquido do mundo, com um volume estimado de US$ 82 trilhões e um giro diário de US$ 822 bilhões, só nos Estados Unidos, o equivalente a um ano das transações com ações na BM&FBovespa. Depois de um período morno, os países mais arriscados e as empresas neles radicadas voltaram a atrair a atenção dos compradores. Na quarta-feira 13, o governo da Irlanda captou € 5 bilhões com títulos de dez anos, que pagam juros de 4,15% ao ano. Foi a primeira emissão irlandesa desde a crise de 2010. O apetite dos investidores foi por € 12 bilhões, mais que o dobro da oferta, e sinalizou que o mercado está se normalizando, o que facilita a vida de quem quer diversificar suas aplicações. “Tanta oferta permite ao investidor escolher entre alternativas seguras ou rentáveis”, diz Martins, do GPS.

 

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