03/04/2018 - 8:00
– Alexa. Cancele o pacote de TV a Cabo.
– [Voz digitalizada] Entendido. Conectando com operadora de TV a Cabo.
Uma voz diferente, também digitalizada, sai dos alto-falantes da assistente virtual da Amazon. – Bom dia, senhor. Alexa me disse que gostaria de encerrar o seu plano de TV a Cabo. Está correto?
– Sim.
– A fatura residual é de R$ 135 e será debitada de sua conta corrente.
– Entendido. Obrigado.
A conversa acima parece digna de um esquete de Black Mirror. Mas ela está prestes a se tornar possível. O que hoje é um processo lento e burocrático, com ligação, espera, transferências e números de protocolo, deverá ser substituído por um simples “sim”. Tecnologicamente falando, não é tão básico assim. Há diversos conceitos embutidos nesse diálogo, como reconhecimento de voz e inteligência artificial. Mas é exatamente esse o tipo de facilidade que os chatbots, programas que usam inteligência artificial para mimetizar conversas humanas, estão prometendo. Eles são cada vez mais utilizados por empresas de serviços e do varejo. E, apesar de não terem sido plenamente adotados pelos consumidores, eles estão evoluindo para se tornarem mais relevantes.
Uma das evoluções é justamente a conexão de empresas, como operadoras de telecom e bancos, com os assistentes virtuais, como a Alexa da Amazon ou a Cortana da Microsoft. Quem está desenvolvendo essa tecnologia é a Aivo, uma empresa argentina que está operando em quase todos os países da América e em alguns da Europa. Segundo apurou a DINHEIRO, essa conexão com assistentes virtuais deverá estar disponível no segundo semestre.
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“O desenvolvimento do atendimento com inteligência artificial está sendo guiado para criar facilidades”, diz Oliver Sanchez, Country Manager no Brasil da Aivo. “São as empresas as detentoras das regras do negócio, e não o provedor do chatbot. A facilidade vai acontecer. Mas há muitos processos internos que precisam mudar.”
Atualmente, apenas grandes empresas têm investido nesse tipo de tecnologia. A Visa, por exemplo, possui um programa de desenvolvimento com a ShopFácil, subsidiária de e-commerce do Bradesco. A aposta é no reconhecimento de fotos de produtos para ajudar na experiência de compra dos clientes. No setor público, os chatbots também ganham espaço. O serviço de atendimento virtual do Poupatempo completou a marca de 100 milhões de mensagens trocadas com cidadãos, na última semana. Segundo o Banco do Brasil, cerca de 70% das interações em redes sociais já são feitas por chatbots.
Porém, a vida não é fácil para quem quer apostar nessa tecnologia. O desenvolvimento é caro, ainda poucas empresas oferecem soluções completas e não há garantias de retorno, apesar de Oliver Sanchez afirmar que 70% das demandas podem ser solucionadas sem a necessidade de um atendimento personalizado.
O caso do Facebook é emblemático. A empresa de Mark Zuckerberg possui uma margem de apenas 30% de problemas solucionados com o uso de sua própria tecnologia, segundo relatório da própria rede social do ano passado.
Redução de custos
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Por isso, pequenas e médias empresas (PMEs) ainda não entraram de cabeça nesse mercado. Apesar disso, há quem diga que as empresas desse porte serão as responsáveis por gerar escala ao segmento. A Hi Platform, empresa brasileira de Chatbots, entende que, para crescer, as PMEs são a solução. Neste ínício de abril, ela está lançando o HiBot, uma versão de chatbot de atendimentocom um valor mais acessível, configuração autoexplicativa e base pré-cadastrada com questões dedicadas a alguns setores do mercado.
“A migração do comércio para o digital vai gerar muito mais vendas. E o chatbot pode ser um grande concierge”, afirma Marcelo Pugliesi, fundador da Hi Platform. “No ano passado, empresas menores começaram a usar o chatbot. Há uma variedade muito grande de empresas menores. E o uso do chatbot está muito mais relacionada ao marketing, do que a um setor da economia.”
Segundo a consultoria de tecnologia Gartner, chatbots continuam a ser uma tendência entre usuários e empresas. A consultoria espera que nos próximos dois anos o seu uso se espalhe pelo mundo. “Até 2020, mais de 50% das médias e grandes empresas terão disposibilizado seus chatbots”, afirma Van Baker, vice-presidente de pesquisas na Gartner.
Segundo ele, o uso deve crescer principalmente à ascensão da geração Millennial, pessoas nascidas após 1990, que demandam interações rápidas e privilegial o contato digital. “Os chatbots ganham tempo para as pessoas, são fáceis de interagir, conforme utilizam uma linguagem natural, reduzem erros associados a humanos e aumentam engajamento”, afirma Baker.