09/07/2008 - 7:00
FERNANDO MEIRELLES, DA PRODUTORA O2
ELE FOI INDICADO AO Oscar pelo filme Cidade de Deus e ao Globo de Ouro pela direção de O Jardineiro Fiel. O primeiro longa rendeu R$ 18,7 milhões e o segundo US$ 33 milhões. Mesmo bem-sucedido, o diretor Fernando Meirelles não parece atraído pela badalação e pelos prazeres do consumismo. “Minhas roupas novas têm cinco anos. Tenho um Fusca destes mexicanos (New Beatle), pequeno e econômico, e não consigo ficar num shopping por mais do que dez minutos”, contou Meirelles à DINHEIRO. Isso não quer dizer que o cineasta seja pão-duro. “Apenas tento agir de modo que não me sinta tão culpado”, explica o diretor. Meirelles pode ser considerado um yawn, termo criado pelos jornalistas ingleses Iain Dey e Jasper Cooping, ambos do Daily Telegraph, para designar uma nova geração de ricos. Mas o que significa yawn? É a junção das iniciais de young and wealthy but normal (jovem e rico, mas normal). São pessoas bemsucedidas, na faixa dos 30 anos e 40 anos de idade, que não esbanjam dinheiro, gastam conscientemente e estão engajados em projetos filantrópicos. Os bilionários da tecnologia Bill Gates, da Microsoft, e Michael Dell, da Dell Computers, assim como os empresários brasileiros Oskar Metsavaht, da grife Osklen, e André Szajman, da gravadora Trama, podem ser considerados membros deste grupo.
Eles são o avesso de Paris Hilton, a loirinha da pá-virada que passa o tempo encenando filminhos picantes na internet e gastando o dinheiro de sua família, os fundadores da cadeia hoteleira Hilton, para chamar a atenção da mídia. “Alguns ricos só desejam ter uma vida confortável, outros buscam fazer algo relevante. Estes últimos são os yawns”, disse Iain Dey à DINHEIRO. Bill Gates e o megainvestidor Warren Buffett, por exemplo, seriam yawns, não fosse pela idade. Gates, aos 52 anos, está deixando a Microsoft, para dedicar- se à sua fundação, Bill & Melinda Gates. Já o investidor Warren Buffett, 77 anos, doará 85% de toda a sua fortuna à entidade de Gates. Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, até hoje mora na mesma casa, comprada, em 1958, por US$ 30 mil. O bilionário da informática Michael Dell, 43 anos, também é yawn. Por meio de sua fundação, a Michael & Susan Dell Foundation, ele já doou cerca de US$ 1,2 bilhão. Na vida particular, o oitavo homem mais rico do mundo anda de táxi e de metrô.
Os jornalistas ingleses que cunharam o termo yawn costumam dizer que este é um comportamento visto em países desenvolvidos. Há, contudo, um grupo de brasileiros que se encaixa perfeitamente no perfil dos yawns. Fernando Meirelles é um deles. Seus últimos filmes resultaram em ONGs nas comunidades onde gravou e a produção de seu novo projeto; o filme Ensaio sobre a Cegueira será compensado com o plantio de árvores. André Szajman, sócio da gravadora Trama, também tem ações no terceiro setor e não é visto esbanjando dinheiro. A Trama mantém um banco de dados virtual para novos talentos, além de um convênio com a ONG Viva Rio, para que jovens da favela da Rocinha trabalhem vendendo CDs. Oskar Metsavaht, dono da marca de roupas Osklen, tem outro tipo de preocupação. Sua grife usa materiais de baixo impacto ambiental e adota tecidos orgânicos. Isso também é refletido em sua vida pessoal. Oskar faz ioga, surfa e até se locomove de skate, quando possível. “Estes grupos alastram tendências. Como os hippies, pode ser que não atinjam a todos, mas mudam muita coisa na sociedade”, diz Edson Crescitelli, professor de estratégia e especialista em comportamento do consumidor da Faculdade de Economia e Administração da USP.