As roupas descontraídas de final de semana podem até causar dúvidas na primeira impressão, mas um bom observador irá concluir rápido que dinheiro não é problema para aquele grupo de cerca de 20 pessoas. Eles são altos executivos, empresários e herdeiros de idades variadas ? entre 25 e 60 anos ?, que decidiram passar dois dias em tratamento intensivo. O objetivo é combater aquela sensação de que o patrimônio pode acabar repentinamente, uma angústia que passa a fazer um número crescente de vítimas pelo mundo afora: a terrível síndrome de perder tudo. Seja o patrimônio que construíram a duras penas, sejam os bens deixados pelos pais, seja o bom salário e até as aplicações. O mais terrível é que o temor de ver o bolso ficar vazio de uma hora para outra ronda a vida dessas pessoas independentemente das baixas das bolsas e das incertezas financeiras. Em alguns momentos, essa angústia chega a causar doenças físicas. É para vencer esse pânico monetário que eles se reúnem num curso de educação financeira administrado pela consultora Glória Maria Pereira, que estudou casos similares em universidades americana e canadense.

?As rápidas mudanças econômicas deixaram as pessoas, principalmente as mais endinheiradas, inseguras em relação à energia do dinheiro e a falta de conhecimento virou uma doença?, explica Glória. Para exemplificar as novidades nas formas de gerar riquezas, basta olhar o ranking dos milionários brasileiros. Entre 90 e 2000, Antônio Ermírio de Moraes, presidente do Grupo Votorantim ? gigante do setor de cimento ? liderava a lista. Porém, em 2001, foi desbancado pelos irmãos Safra, os banqueiros Joseph e Moise, que acumulam uma fortuna de US$ 4 bilhões com atividades financeiras. Nesse período, o grupo Votorantim diversificou a atuação para setores como energia e tecnologia, o que garante a sua posição entre os maiores grupos industriais. ?A forma como geramos riqueza hoje pode não ser suficiente para manter o padrão de vida no futuro. Dessa constatação, vem o temor de perder tudo?, diz a consultora.

Apesar de a causa ser a rápida velocidade das mudanças econômicas, o pânico monetário pode manifestar-se em diversas situações. O empresário do setor de confecções P. S. O. decidiu procurar ajuda profissional para aprender a lidar com dinheiro logo após um lucro recorde. Estranho? Não, a conquista despertou o medo de falir. ?Fiquei apavorado com o receio de não conseguir sustentar o lucro. Era pensar nisso e sentir dor de cabeça?, diz. Ele chegou a deixar passar a chance de expandir os negócios para colocar R$ 800 mil na poupança.

Traumas. Mas a ameaça não vem só dos lucros, o primeiro prejuízo pode causar trauma. ?Fiquei neurótica. Reduzi a mesada das crianças, cancelei uma viagem e vendi a casa de praia. Queria ver o dinheiro na minha conta?, lembra a empresária J. D. M., que herdou um antiquário. Depois do susto, J. D. M. verificou que setembro era tradicionalmente um mês ruim para o setor. ?Algumas vezes, o medo pode ser positivo. A pessoa aprende a lidar com as finanças? , diz Glória. Porém, a tese contrária também é verdadeira. O temor excessivo leva à redução de ganhos. Classificado como conservador, o executivo P. H. L. aplicava num fundo de renda fixa e em imovéis. Acumulou um patrimônio que chegou nos milhões. ?Se nos últimos cinco anos tivesse diversificado teria, no mínimo, 50% a mais?, diz. Depois de dividir os temores com outras pessoas que sofrem do mesmo pânico, P. H. L. concluiu: ?Esconder-se é pior. O grande lucro é aprender a adaptar-se às oportunidades?, diz.