Você é um executivo e viaja a trabalho pelos Estados Unidos. Deseja ir de New Jersey a Washington. Dirige-se ao balcão e descobre que só há vaga na aeronave da Hooters Air, a companhia aérea da cadeia de lanchonetes em que as garçonetes usam minúsculos shorts laranjas e reduzidíssimas blusas brancas. No avião, o traje de duas aeromoças a bordo é o mesmo. O dilema: você contaria para a sua esposa que voou com um serviço assim descontraído? ?Depende das circunstâncias, mas acho que não diria, minha mulher é muito ciumenta?, responde o publicitário Ricardo Pereira Passos, da agência Fischer América, de São Paulo. ?Já é difícil ir a um bar com os amigos, imagine num vôo desses.? Ele certamente teria problemas domésticos mais complicados se reservasse lugar numa outra empresa aérea americana, a Ecstasky. O nome, uma contração de êxtase e céu, em inglês, diz tudo, ou quase tudo: as aeromoças desfilam pelos corredores de lingerie.

A polêmica em torno dessas empresas tornou-se assunto nos Estados Unidos ? foi dar até nas respeitosas páginas do New York Times. As aeromoças tradicionais, defensoras de um estilo de atendimento mundialmente celebrado, feito de sorrisos, profissionalismo e atenção, evidentemente reclamaram das novas colegas de trabalho. Mesmo assim, os jatos decolaram em céu de brigadeiro. A Hooters Air funciona desde março de 2003 e opera com três aviões nos aeroportos de Myrtle Beach, Atlanta, Washington DC e Newark. Em cada vôo, lá estão as voluptuosas moças. Trata-se, na verdade, de uma jogada de marketing para conquistar clientes, principalmente executivos, e chamar a atenção da mídia. A julgar pela exposição da Hooters Air e da ocupação das aeronaves, o resultado é muito bom. ?A minha esposa fez a reserva?, confessa Mike Goodwin, gerente da Mason Goodyer, centro automotivo de Myrtle Beach. A principal vantagem da Hooters Air em comparação com os concorrentes é o preço. A tarifa custa, em média, a pechincha de US$ 99. ?Os vôos da companhia estão sempre lotados de famílias?, disse à DINHEIRO Eileen Glennie, gerente de serviço da Hooters Airs. ?Os homens levam as suas esposas e bebês.?

Danças eróticas. Esse ambiente supostamente familiar nos corredores dos Boeings 737/200 e 737/300 atrai simpatia à causa e brincadeiras com a iniciativa. Ela faria sucesso no Brasil? ?Aí é que a Varig quebraria de vez?, ri Leonel Costa, presidente da fabricante de impressoras Lexmark. Mas ele faz uma ressalva. ?Só teria êxito se não fosse vulgar.? Escapar da vulgaridade, cabe observar, é a grande dificuldade da Ecstasky. Não é fácil ter mulheres apenas com roupas íntimas no trabalho e isso parecer cândido. Nos documentos de divulgação da empresa, não há concessões ? ?Nossas garotas são as mais belas da Califórnia?, informa a publicidade. A companhia, com sede em Beverly Hills, tem acesso a uma frota de 30 jatos executivos. Eles podem ser fretados a um preço médio de US$ 40 mil por uma travessia dentro dos Estados Unidos. Mas há, sim, uma rota regular: Los Angeles ?Las Vegas. Antes do embarque, o passageiro tem à disposição um catálogo com fotos de 100 moças que podem vir a trabalhar no vôo (há também um lote de 15 homens à escolha). Uma limusine busca o viajante em casa e o leva até a porta do avião. Os serviços incluem champanhe, pratos requintados e danças eróticas. As moças ainda oferecem massagem e manicure. Para os mais assanhados vai um aviso, oficialmente divulgado pela Ecstasky: não é permitido sexo nas alturas. De qualquer modo, as duas companhias americanas parecem ter descoberto um jeito de reduzir o medo de avião.