O escândalo de sexo e corrupção que parecia circunscrito à matriz da multinacional alemã Volkswagen espalhou-se em várias direções na semana passada. O estilhaço mais pesado atingiu em cheio o sindicalista Luiz Marinho, hoje ministro do Trabalho. Sem meias palavras, em entrevista ao jornal alemão Die Welt, o ex-gerente de Recursos Humanos da Volks, Klaus-Joachim Gebauer, acusou Marinho de ter participado de uma orgia patrocinada pela Volks. ?A corrupção não está limitada à Alemanha. Tem a ver com a Volkswagen do Brasil também?, disse Gebauer. Em seguida, partiu para um demolidor detalhamento. Informou ao jornal que Marinho e o sindicalista Mario Barbosa foram ciceroneados por ele na Alemanha durante uma visita oficial para negociações trabalhistas, em 2001. O atual ministro era presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC. Barbosa, integrante da comissão de fábrica de São Bernardo.

?Viajei de carro com eles até Velpke (uma pequena vila, com cerca de 4 mil habitantes a poucos quilômetros de Wolfsburg, sede da Volks)?, narrou Gebauer. ?Lá fica a casa noturna ?Uschi?. A boate foi fechada para os dois, numa festa privê. O clima realmente esquentou. Cinco meninas dançaram em cima das mesas em que eles estavam, provocando-os. Num certo momento, todos se retiraram para os quartos com elas. O custo dessa festa foi de 1 mil euros cada um?. Gebauer disse ainda que o atual presidente da Volks no Brasil, Hans-Christian Maergner, participou no início do ano de uma festa em um bordel paulista, organizada pelo atual responsável pela região América do Sul na sede da Volks, Lauro Alcântara.

Em outubro de 2001, período em que teria ido ao bordel alemão, Marinho estava negociando com a montadora a redução de um corte de pessoal de 3 mil trabalhadores na planta de São Bernardo. O total de dispensas, depois da negociação, baixou para 700. O ministro Marinho emitiu nota em que nega a acusação e promete processar o ex-executivo da Volks por calúnia e o jornal Die Welt, que não o procurou para dar sua versão. Mas não quis responder aos jornalistas, que tomaram a frente do Ministério do Trabalho, em Brasília, no final da tarde da quinta-feira 20. Marinho saiu pela garagem, dentro de um carro de passeio, para despistar a imprensa O sindicalista Barbosa, atualmente integrante da comissão mundial de trabalhadores da Volks, também disse que irá processar Gebauer. Já os adversários deles no meio sindical bateram duro. ?Já sabíamos que essa burocracia sindical era vendida. O que surpreende é o nível de degeneração a que eles chegaram, a ponto de trocar os direitos dos trabalhadores por farras com prostitutas?, declarou o sindicalista José Maria, presidente do PSTU.

Gebauer, que está sendo investigado pelo Ministério Público alemão junto com outros executivos da montadora, também envolveu o então gerente de RH da Volks, Fernando Perez, no esquema de orgias. ?Ele era o responsável pelo planejamento

das viagens?, acusou. Perez, hoje vice-presidente do banco Itaú, confirma que

esteve várias vezes na Alemanha acompanhando Luiz Marinho em reuniões com a direção da Volkswagen. ?Todos os eventos foram de caráter estritamente profissional?, ressalvou. Em comunicado oficial sobre as novas declarações de Gebauer, a Volks do Brasil manifestou reservar-se ?ao direito de não comentar declarações feitas por um ex-empregado do grupo, demitido sumariamente sob acusação de enriquecimento ilícito?.