06/09/2000 - 7:00
Mais uma vez ele rouba a cena. Quando chegou ao Brasil, em julho de 1997, Roberto Peón, chefe da BellSouth, virou a estrela do concorrido leilão da Banda B. Pagou nada menos do que R$ 2,6 bilhões pelo direito de operar a telefonia móvel na região metropolitana de São Paulo. Para se ter uma idéia, isso é pouco menos do que foi pago na privatização da Companhia Vale do Rio Doce. O executivo começou a operar com a bandeira BCP em maio de 1998 e, em dois anos, conquistou 2,3 milhões de clientes. Los Angeles demorou sete anos para chegar a um milhão de clientes. Nova York, outros quatro anos e meio. Peón aproveitou como pode a demanda reprimida no mercado nacional. Antes disso, este mexicano naturalizado americano passou pela China, Israel, Suíça. A tarefa era a mesma: transformar vento em telefonia de primeiro mundo. ?Adoro desafios, principalmente se o assunto for tecnologia?, diz. ?Sou meio nerd?, confessa. Pois agora o nerd, de 50 anos, foi convocado pela BellSouth para nova missão: cuidar da Internet sem fio e o desenvolvimento de novos negócios em toda a América Latina. Por enquanto, ele ainda dá expediente como presidente da BCP em sua sala no quinto andar de um edifício comercial na zona sul de São Paulo. ?Ainda não definiram o substituto e nem a data de meu afastamento?, explica.
Afastamento é forma de expressão. O globe-trotter da telefonia vai continuar em São Paulo. É da capital paulista que o agora chefe da Bell South vai pilotar a operação que ele mesmo define como transferência de dados para os celulares. A escolha do Brasil como sede da nova empreitada da Bell South na América Latina obedece um princípio simples e uma projeção tentadora. De acordo com Peón, o País conseguiu montar centros de excelência invejáveis. ?Temos em Campinas grandes pólos de desenvolvimento tecnológico, assim como em Pernambuco?, conta Peón. ?Vamos investir em todos esses núcleos, porque as parcerias serão inevitáveis para oferecer novas opções na transferência de dados via celular.? Neste ponto, vai contar, e muito, a união recente com o provedor UOL. É uma corrida contra o tempo. E contra os concorrentes, principalmente a Telesp Celular, que comprou o Zip.Net e saiu à frente no chamado m-commerce, a versão móvel do e-commerce. No Brasil, principal mercado da América Latina, estima-se que 1,4 milhão de celulares estejam navegando na rede até 2001. Os números são da consultoria Yankee Group. E tome entusiasmo: até 2005, serão cerca de 28 milhões, segundo a mesma consultoria. Em quatro ou cinco anos, o mercado estará movimentando US$ 200 bilhões no mundo, o que significa que 30% do comércio eletrônico terá de migrar para aparelhos móveis no período. Será?
Demanda existe, obviamente. Mas Peón prefere não se deixar influenciar pelos números estratosféricos que sempre acompanham os negócios on-line. ?Até porque a Internet não é o único caminho. Será preciso, primeiro, descobrir o que o consumidor realmente vai querer?, diz Peón. ?Não basta dizer ?olha você pode comprar discos ou livros pelo celular ou fazer transações bancárias?. Isso é relativamente simples.? Segundo ele, há uma série de aplicativos, dentro ou fora da Internet, que podem ter o telefone celular como condutor. ?Eu tenho uma casa em Atlanta. Hoje, eu consigo ligar as luzes desta casa pelo celular, assim como acionar ou desligar os alarmes?, conta Peon. ?O que estou dizendo é que aplicativos de segurança ou outros softwares serão tão importantes para alguns clientes quanto as maravilhas da Internet.? Em outras palavras, a chave do sucesso está na forma eficiente de criar novos produtos. ?Ainda não pegamos, sequer, a ponta do Iceberg.?
Há, obviamente, no discurso de Peón sobre o futuro dos celulares, uma leve estocada na rival Telesp. Isto está claro. Mas a julgar pela trajetória da BCP no mercado brasileiro, não se pode negar que o executivo é um obcecado por novos serviços e tecnologia. A BCP apresentou ao mercado, entre outras coisas, o plano de tarifas inteligentes e o olho mágico. Investiu em micro estações de rádio base em pontos estratégicos de São Paulo. São aquelas pequenas células de transmissão colocadas em restaurantes, túneis, aeroportos, shopping centers. Neste semestre, aplicou R$ 82 milhões na expansão da rede, incluindo a instalação de 105 estações rádio-base.
Antes de deixar a BCP, Peon terá de resolver alguns problemas. Em março, a operadora deixou de cumprir duas das nove metas de qualidade estabelecidas pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Ambas referiam-se ao atendimento ao cliente. ?Estou verificando isto pessoalmente?, diz Peón. O outro problema está nos balanços. A BCP investiu, em três anos de atuação no País, mais de R$ 4,5 bilhões. Buscou recursos no mercado internacional ? fez o maior financiamento entre todas as operadoras da América Latina ? e sofreu com maior intensidade o baque provocado pela desvalorização cambial no começo do ano passado. Desde então, Peón corre para colocar a empresa no azul. Neste primeiro semestre, surgiram alguns sinais de recuperação. A receita líquida atingiu R$ 656,6 milhões, crescimento de 13,1% em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado operacional, antes de impostos e depreciação (EBITDA) chegou a R$ 210,8 milhões, ante R$ 170,8 milhões em 1999. O prejuízo recuou de R$ 766 milhões para R$ 117,4 milhões. ?Em todos os indicadores, apresentamos melhores resultados que no ano passado?, garante o vice-presidente Fábio Coelho.
Como pôde a demanda reprimida no mercado nacional. Antes disso, este mexicano naturalizado americano passou pela China, Israel, Suíça. A tarefa era a mesma: transformar vento em telefonia de primeiro mundo. ?Adoro desafios, principalmente se o assunto for tecnologia?, diz. ?Sou meio nerd?. Pois agora o nerd, de 50 anos, foi convocado pela BellSouth para nova missão: cuidar da Internet sem fio e o desenvolvimento de novos negócios na América Latina. Por enquanto, ele ainda dá expediente como presidente da BCP em sua sala no quinto andar de um edifício comercial na zona sul de São Paulo. ?Ainda não definiram o substituto e nem a data de meu afastamento?, explica.
Afastamento é forma de expressão. O globe-trotter da telefonia vai comandar da capital paulista a operação que ele mesmo define como transferência de dados para os celulares. A escolha do Brasil como sede da nova empreitada na América Latina obedece um princípio simples e uma projeção tentadora. De acordo com Peón, o País conseguiu montar centros de excelência invejáveis. ?Temos em Campinas grandes pólos de desenvolvimento tecnológico, assim como em Pernambuco?, conta Peón. ?Vamos investir nesses núcleos. As parcerias são vitais para oferecer novas opções na transferência de dados via celular.? É uma corrida contra o tempo. E contra os concorrentes ? principalmente a Telesp Celular, que saiu à frente no chamado m-commerce, versão móvel do e-commerce. No Brasil, estima-se que 1,4 milhão de celulares estejam navegando na rede até 2001. Os números são da consultoria Yankee Group. Até 2005, serão 28 milhões. Em cinco anos, o mercado estará movimentando US$ 200 bilhões no mundo, o que significa que 30% do comércio eletrônico terá de migrar para aparelhos móveis no período.
Peón prefere não se deixar influenciar pelos números. ?Até porque a Internet não é o único caminho. Será preciso descobrir o que o consumidor realmente quer?, afirma. ?Não basta dizer ?olha, você pode comprar livros pelo celular ou fazer transações bancárias?. Isso é simples.? Segundo ele, há uma série de aplicativos, dentro ou fora da Internet, que podem ter o telefone celular como condutor. ?Eu tenho uma casa em Atlanta. Hoje, posso ligar as luzes ou acionar o alarme desta casa pelo celular?, conta Peón. ?O que estou dizendo é que aplicativos de segurança e outros softwares serão tão importantes quanto as maravilhas da Internet.? Em outras palavras, a chave do sucesso está na capacidade de criar produtos e serviços.
No discurso de Peón há uma leve estocada na rival Telesp. Isto está claro. Mas a julgar pela trajetória da BCP, não se pode negar o pioneirismo do executivo em alguns serviços. A BCP apresentou ao mercado, por exemplo, o plano de tarifas inteligentes e o olho mágico. Também investiu em microestações de rádio base, colocando células de transmissão em restaurantes, túneis e shoppings. Só neste semestre aplicou R$ 82 milhões em tecnologia.
Antes de deixar a BCP, porém, Peón terá de resolver alguns problemas. Em março, a operadora deixou de cumprir duas das nove metas de qualidade estabelecidas pela Anatel. Ambas referiam-se ao atendimento ao cliente. ?Estou verificando isto pessoalmente?, diz Peón. O outro problema está nos balanços. A BCP investiu R$ 4,5 bilhões em dois anos de operação, levando-se em conta os gastos em São Paulo e em seis Estados do Nordeste. Buscou recursos no mercado internacional ? fez o maior financiamento entre todas as operadoras da América Latina ? e sofreu com maior intensidade o baque provocado pela desvalorização cambial no início de 99. Neste primeiro semestre, surgiram alguns sinais de recuperação. A receita líquida atingiu R$ 656,6 milhões, um aumento de 13,1% em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado operacional, antes de impostos e depreciação (EBITDA), chegou a R$ 210,8 milhões, ante R$ 170,8 milhões em 1999. O prejuízo recuou de R$ 766 milhões para R$ 117,4 milhões. ?Em todos os indicadores, apresentamos melhores resultados que no ano passado?, garante Fábio Coelho, vice-presidente da BCP. O globe-trotter sorri, aliviado.
Wap está de passagem
DINHEIRO ? O sr. costuma dizer que o WAP é apenas uma passagem…
Roberto Peón ? A transferência de dados para os celulares vai além do e-commerce. Há vários outros aplicativos fora da rede, principalmente na questão de serviços. O desafio é detectar as necessidades dos clientes.
DINHEIRO ? Qual será o futuro da telefonia móvel, então?
Peón ? Ninguém sabe ao certo. Há vários pontos a serem discutidos. Por exemplo: como fazer o roaming internacional quando o assunto for transferência de dados, transações comerciais e serviços? O mesmo serviço que se tem aqui, terá no exterior? E sua assinatura digital, valerá para lá? São questões que ainda vão ser muito discutidas.
DINHEIRO ? O que a Bell South pretende fazer quando o mercado brasileiro de telefonia estiver totalmente aberto em três ou quatro anos?
Peón ? O que posso dizer é que a Bell South está em quase todos os países da América Latina. Em todos eles, oferece um serviço nacional de cobertura. Então é natural que a gente queira ter um serviço nacional no Brasil.