17/11/2004 - 8:00
Discretamente, como é de seu estilo, os ex-donos do Noroeste estão recuperando, pouco a pouco, o dinheiro que perderam na milionária fraude de que foram vítimas na década de 90. Dos US$ 242 milhões desviados na época, US$ 102 milhões já foram bloqueados no Exterior, em uma operação tornada pública na semana passada durante seminário sobre combate a fraudes e recuperação de ativos. Considerado o maior da história das finanças brasileiras, o desfalque que atingiu as famílias Cochrane e Simonsen, então controladoras do banco, foi descoberto em 1998 quando a instituição foi vendida ao Santander. Desde então, o banqueiro Leo Cochrane Júnior, ex-presidente do Noroeste, está empenhado em uma cruzada em busca dos dólares perdidos, com resultados que agora se mostram encorajadores. A operação coordenada no Brasil pelo escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados mobilizou mais de 30 advogados em dezenas de países e já encontrou mais da metade dos US$ 190 milhões remetidos para fora do País.
Partindo da auditoria feita no Noroeste antes da venda para o Santander, a equipe de advogados e investigadores iniciou um processo de quebras de sigilos, buscas e apreensões que levou ao bloqueio de bens e dinheiro em contas bancárias na Suíça, no Reino Unido, nos Estados Unidos e até na Nigéria, onde o ex-diretor da área internacional do banco, Nelson Sakagushi (que cumpriu pena na Suíça por lavagem de dinheiro), fez investimentos nebulosos. Paralelamente, os antigos donos do Noroeste estão processando o Citibank e o Lloyds por negligência em transações suspeitas em suas filiais suíças. Os ex-banqueiros acreditam que dinheiro deles circulou por essas instituições em estranhas contas abertas por hindus de nacionalidade britânica, residentes da Nigéria e com negócios em Hong Kong.
Já no front interno, as coisas vão mal para Cochrane. Na quarta-feira 10, ele sofreu nova derrota na Justiça em processo contra a PricewaterhouseCoopers, que é acusada de imperícia porque era auditora do banco na época da fraude. A ação pede indenização de US$ 242 milhões, mas o julgamento, em segunda instância, deu ganho de causa à Price, acolhendo o argumento de que os donos do Noroeste são responsáveis e não vítimas do desfalque.