02/05/2022 - 11:57
Nikolai Mavsissan assume o volante com suas mãos fechadas. Este motorista voluntário tem menos de uma hora em seu micro-ônibus blindado para entrar e sair de Lyman, uma cidade parcialmente cercada no leste da Ucrânia, para entregar pão aos sitiados e voltar com aqueles que querem sair.
“Vou dirigir muito, muito rápido. Tenho medo. Bombardeiam tanto, contra nós inclusive, vindos de toda parte”, alerta o jovem antes de entrar em uma estrada que passa no meio de uma floresta, acompanhado por policiais.
A operação, que consiste em distribuir 150 kg de pães para ajudar os últimos civis a suportar o cerco, e depois retornar com aqueles que desejam sair, não está acordada com as tropas inimigas.
Na cidade fantasma, o micro-ônibus, único veículo visível na redondeza, circula em meio aos zumbidos que anunciam as explosões, várias vezes por minuto.
“Abaixem a cabeça!”, grita um policial aos passageiros. Um projétil, lançado na rodovia, arremessa estilhaços contra o veículo, destruindo uma das janelas supostamente blindadas.
“Chegamos em dois minutos” anuncia a uma família Igor Ugnevenko, chefe da polícia local que participa cada vez com menos entusiasmo dessas ajudas humanitárias, considerando que “os que ficam estão simplesmente loucos”.
No domingo, os bombardeios incessantes mataram sete pessoas e feriram outras quatro em uma rua, afirmou o prefeito.
O drama terminou por convencer alguns locais a irem. “Metade da cidade está destruída”, disse um de seus habitantes, enquanto abastecia seu Lada (carro) vermelho. “Já não tenho casa”, explica.
O micro-ônibus de Nikolaï vai desta vez com 12 civis: duas jovens mulheres, uma família, e outras pessoas adultas.
– Capturados –
Em Lyman, 22 das 40 cidades próximas foram “capturadas” em uma semana pelas tropas russas, segundo o prefeito Oleksandre Juravlev.
A cidade operária, que contava com 20 mil habitantes antes da guerra, é a última a ser tomada pelo exército russo antes de chegar a Sloviansk, uma das principais aglomerações da região, considerada vital no plano de invasão de Moscou.
De Lyman, os tanques russos tem cerca de 20km para chegar a Sloviansk, e devem atravessar um rio.
A ponte ferroviária que passa por cima do rio Donets foi destruída na sexta-feira, em circunstâncias ainda não esclarecidas, e não havia sido atingida por um “foguete russo”, segundo os militares ucranianos locais, entrevistados pela AFP.
A estrutura metálica está partida em dois e dois vagões de carga caíram e afundaram nas águas cinzentas do Donets.
A 200 metros em paralelo, uma outra ponte segue sendo usada, mas está carregada de explosivos. Uma unidade espera, próxima, dentro da floresta, para receber a ordem e detonar a carga explosiva.
Os russos “podem chegar em uma hora, ou amanhã, enviaremos nossos soldados e detonaremos” a ponte, disse um dos militares ucranianos, cujo nome é conhecido por “engenheiro” à AFP.
“É sempre difícil destruir uma de nossas infraestruturas, mas entre salvar uma ponte e proteger uma cidade, não podemos duvidar”, afirma o militar.
Ao destruir a via, as tropas ucranianas esperam ganhar “duas semanas” antes que os russos tomem Sloviansk, obrigando-os a realizarem um grande desvio.
