Mais do que uma companhia multinacional, a Volvo Cars pode ser considerada “multicultural”: tem sede na Suécia, já pertenceu a um grupo norte-americano, foi comprada em agosto pela chinesa Geely e é presidida por um alemão. 

 

Agora, a empresa que fatura US$ 12,4 bilhões, espera retomar os patamares de três anos atrás, quando vendeu mundialmente mais de 458 mil carros. A expectativa é fechar 2010 com 395 mil unidades comercializadas. 

 

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O desafio é integrar: no comando da empresa sueca, Jacoby, o CEO, é alemão e responde ao chinês Li Shifu (à esq.)

 

Ainda está longe, mas seus executivos passaram a acreditar no mantra de Li Shifu, o dono da montadora chinesa Geely. “Vamos reviver o passado de glória”, diz ele. O grande questionamento do mercado é se a cultura sueca, que se tornou sinônimo de segurança ao introduzir o cinto de três pontas e outros itens, ganha ou perde força ao se associar aos chineses, afeitos a copiar o estilo alheio do que criar o próprio. 

 

Fora isso, a montadora sueca precisa resgatar o seu DNA, perdido ao longo dos anos.  “A Volvo continuará com a mesma qualidade de carros, com a vantagem de ter agora uma gestão independente. 

 

Todas as marcas buscam parcerias chinesas, estaremos em posição privilegiada agora”, diz à DINHEIRO Lex Kerssemakers, presidente da Volvo Cars Overseas, divisão que abrange todos os mercados da companhia exceto a Europa, América do Norte e China. 

 

Em rápida visita ao Brasil, o executivo, que trabalha há mais de 25 anos na Volvo e reforça a pluraridade da companhia por ser holandês, argumenta que a empresa já passou por um choque cultural antes e, por isso, não cometerá “os mesmos erros do passado”. 

 

“A compra da Volvo Cars pela Ford causou uma reação muito emocional não só nos funcionários, mas nos suecos em geral. Era como se o país perdesse parte de sua identidade”, afirma Kerssemakers. 

 

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Kerssemakers, da Volvo: ”As duas partes (a Volvo e a Geely) têm muito a ganhar com a parceria”

 

“Os funcionários, e eu me incluo nessa lista, se fecharam demais e levaram muito tempo para perceber que os americanos tinham, sim, algo a nos ensinar. A Volvo agora chega de mente aberta e nova atitude para a sua convivência com a Geely. As duas partes têm muito a ganhar”, aposta. 

 

Entre os ganhos citados por Kerssemakers está a forma acelerada de fazer negócios dos chineses. Da assinatura do acordo de aquisição, em março deste ano, até a conclusão do negócio em agosto, várias mudanças já foram feitas. 

 

A primeira providência foi a contratação do alemão Stefan Jacoby, ex-presidente da Volkswagen América do Norte, para comandar a companhia sueca no lugar de Hans-Olov Olsson, que passou a ocupar a vice-presidência. Outros seis nomes do alto escalão também mudaram, sendo apenas um chinês, Winnie Kin Wah Fok.

 

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Em busca de uma identidade: a segurança, bandeira encampada pela marca, deixou de ser exclusividade da Volvo

 

Uma nova fábrica foi anunciada, assim como a manutenção das existentes na Suécia e na Bélgica e a garantia de que a nova diretoria terá total autonomia. A recuperação do volume de vendas da companhia deve contar com uma tímida, mas significativa, ajuda do Brasil, que registrou vendas de 2,15 mil unidades em 2009, 96% a mais que no ano anterior. 

 

O motivo para o novo patamar em terras brasileiras foi a ampliação da rede de distribuição, que passou de nove para 18 concessionárias. “Percebemos que sem bons parceiros fica impossível ampliar as vendas”, afirma Anders Norinder, presidente da Volvo Cars América Latina e Caribe. A expectativa por aqui é chegar a 23 concessionárias e cinco mil unidades vendidas em 2011. 

 

A Volvo não é a primeira montadora de alto padrão a ir para as mãos de empresas, digamos, menos tradicionais do setor automotivo. Em 2008, a Ford, também proprietária das consagradas marcas Land Rover e Jaguar, vendeu as duas para a indiana Tata. 

 

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“A identidade e qualidade de ambas foi mantida pela Tata que tem feito a gestão corretamente. Se a Geely trilhar o mesmo caminho tem tudo para ser um sucesso”, diz Lucas Copelli, sócio-diretor da Vallua Estratégia e Branding. 

 

Mas o desafio da Volvo vai muito além de conciliar duas culturas totalmente diferentes. Nos últimos anos, a questão da segurança, bandeira sempre encampada pela empresa, se tornou crucial para todas as montadoras de ponta. Ou seja, não é mais exclusividade da empresa sueca. Será que essa companhia multicultural encontrará uma nova – e única – identidade?