01/10/2003 - 7:00
A marca Volvo é reconhecida por fazer veículos seguros, com alta tecnologia e conseqüentemente mais caros que modelos similares. É assim que ela tem escrito sua história de sucesso. Mas seria possível replicar tal imagem com produtos como tratores e colheitadeiras? O grupo aposta que sim, e acaba de escolher o Brasil para fazer a sua estréia no setor agrícola. O projeto ainda é guardado a sete chaves. O lançamento das primeiras unidades deve ocorrer em 2004, mas não há informações oficiais sobre investimentos. Sabe-se que a companhia está testando secretamente dois modelos em fazendas brasileiras. São equipamentos de grande porte, feitos para agricultores de peso. E o melhor de tudo: o País será o único produtor dessas máquinas no mundo. Elas sairão das fábricas de Curitiba (PR) ou Pederneiras (SP). ?O País tem vocação agrícola e vamos nos
dedicar a essa área?, diz Yoshio Kawakami, presidente da filial nacional da Volvo Equipamentos de Construção, que já atua nos setores de mineração e obras pesadas.
Não é à toa que a Volvo resolveu ancorar essa investida por
aqui. O Brasil se transformou em celeiro para o setor agrícola. Entre 1999 e 2002, a frota de tratores saltou de 28 mil para 52 mil unidades, de acordo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos, a Anfavea. O boom do mercado tem duas razões: o
governo federal liberou R$ 6,2 bilhões para o financiamento de equipamentos nos últimos três anos e a produção de grãos cresceu 50% de 1999 para cá.
A farra é boa, mas a Volvo terá de enfrentar alguns brutamontes: a Case New Holland, do Grupo Fiat, e a AGCO, fabricante da marca Massey Ferguson. A primeira faturou R$ 1,4 bilhão em 2002 com a venda de equipamentos agrícolas, virou pólo mundial de exportação de máquinas para cana-de-açúcar, soja e café e injetou R$ 20 milhões para triplicar a capacidade de produção de sua unidade de Piracicaba (SP). A segunda deve fechar 2003 com receitas de US$ 550 milhões, construiu no Brasil a maior fábrica de tratores do mundo e exporta para 70 países. ?Existe espaço para todos. O Brasil tem chances de triplicar sua área agrícola?, avalia Normélio Ravanello, presidente da AGCO. ?A Volvo é uma marca reconhecida, mas não ficamos atrás de ninguém.?
Aos concorrentes, a Volvo avisa: existe espaço para um produto
mais sofisticado, com tecnologia avançada. ?Não é arrogância, é uma visão global do grupo?, diz Kawakami. Seus equipamentos para construção são até 15% mais caros do que a média do mercado. Apesar de ainda serem vistas como o patinho feio da corporação, as ?máquinas amarelas? são estratégicas para os suecos. A Volvo Equipamentos de Construção é uma empresa relativamente nova (existe como Volvo há 15 anos), fatura US$ 2,5 bilhões (10% da receita global) e é a quarta colocada no ranking mundial de fabricantes desse tipo de equipamento, atrás de Caterpillar, Case New Holland e Komatsu. As receitas da filial brasileira, que devem atingir US$ 123 milhões, cresceram 22% no primeiro semestre de 2003, em relação ao mesmo período do ano passado. Para Kawakami, ainda há muito espaço para crescer. ?Eu sempre achei que essa área da Volvo era muito tímida no Brasil. Por isso eu estou aqui: para acabar com essa timidez?, diz o executivo.