01/04/2010 - 22:00
A história de vida do empresário Li Shifu, 47 anos, pode ser considerada um exemplo de como a economia chinesa tem gerado bilionários com uma velocidade impressionante. Filho de agricultores, Shifu é o típico empreendedor que já fez de tudo: foi dono de um pequeno estúdio fotográfico, teve uma fábrica de peças de geladeira e até fabricou scooters. Mas foi no setor automobilístico que ele fez ? e anda fazendo ? história.
De olho no consumidor asiático: Shifu, dono da Geely, pretende abrir uma fábrica da Volvo na China
Depois de criar a Geely Auto-mobile, em 1998, a primeira montadora da China sem ter o Estado como sócio, e se tornar um dos homens mais ricos do mundo com um patrimônio pessoal de US$ 1,8 bilhão, ele acaba de dar a tacada mais ousada de sua trajetória. No domingo 28, Shifu assumiu o controle da divisão de veículos de passeio da sueca Volvo, pertencente à americana Ford.
Com isso dobrou de tamanho da noite para o dia. Ele desembolsou US$ 1,8 bilhão por uma empresa que se tornou sinônimo de carros elegantes e, acima de tudo, feitos com grande esmero nos quesitos segurança e qualidade. Uma imagem oposta à das montadoras da terra do empresário.
?A China será o segundo lar da Volvo?, disse Shifu durante a entrevista na qual anunciou a compra. A transação, que coloca a Geely em uma posição de destaque no cenário global, deixa no ar a seguinte questão: Shifu adotará o padrão de qualidade da Volvo ou tentará impor o estilo ?made in China? na nova companhia?
Passado nebuloso: a montadora cresceu copiando modelos consagrados. O Geely GE (à esq.) é igual ao Rolls-Royce (à dir.)
Shifu fez questão de garantir que pouca coisa irá mudar na Volvo. A gestão seguirá independente e a prioridade é retomar a trajetória de crescimento. A montadora sueca vive um período de estagnação, com as vendas empacadas na faixa das 300 mil unidades. Para engatar a primeira, os parques produtivos da Suécia e da Bélgica serão mantidos e a Geely poderá abrir uma fábrica da Volvo na China.
Com isso, ele espera aumentar seu cacife em um país no qual os automóveis importados de luxo se tornaram objeto de desejo da emergente classe média. ?A Geely poderá unir a tradição e a tecnologia Volvo ao baixo custo produtivo chinês?, argumenta. Seja qual for, de fato, o caminho escolhido por Shifu, ele já tem em mãos um bem que faltava ao seu grupo.
Trata-se da marca, uma das mais respeitadas do setor. ?É mais fácil comprar qualidade que desenvolver esse processo internamente. Ele demonstrou um grande senso estratégico ao optar por uma marca de prestígio?, diz Olavo Henrique Furtado, coordenador de MBA da Trevisan Escola de Negócios.
Shifu comanda uma das montadoras que mais crescem no mercado chinês. Fechou 2009 como a oitava do ranking com a comercialização de 330 mil veículos. No acumulado janeiro-fevereiro as vendas somaram 72,5 mil unidades, 95,5% a mais do que no mesmo período de 2009. A grande ambição do dono da Geely é repetir a bem-sucedida trajetória da sul-coreana Hyundai nos Estados Unidos.
E a compra da Volvo pode ajudar a pavimentar o caminho. Para isso, porém, Shifu terá de mostrar que, agora, respeita as regras do mercado. Especialmente o direito à propriedade intelectual. A Geely pirateou modelos da Mercedes-Benz, Toyota e Rolls-Royce. Algo impensável para o piloto de uma empresa da tradição e do respeito da sueca Volvo.