Como você votou nas últimas eleições? Com a cabeça, o coração ou o estômago? Essas são apenas algumas das inúmeras maneiras de ir às urnas para eleger o representante no Executivo e no Legislativo. Vota-se por ideologia (cada vez mais rara), por simpatia, por gratidão ou simplesmente para que nada mude. Há quem vote num palhaço para deputado federal por puro desencanto com a política. Muitos dos 20 milhões de votos para Marina Silva foram de pessoas insatisfeitas com as duas principais alternativas para presidente, Dilma Rousseff e José Serra. Os dois voltam a se encontrar nas urnas no segundo turno, no dia 31 de outubro. Milhões de brasileiros que apertaram o número 13, de Dilma, votaram com o bolso, o órgão mais sensível do corpo humano.

 

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A lógica desse tipo de voto é simples: se a economia vai bem, para que mudar? O Brasil elegeu Fernando Henrique Cardoso para presidente duas vezes. Em ambas as ocasiões, o maior ativo eleitoral do tucano foi o Plano Real, que enterrou o tormento da hiperinflação e deu uma moeda decente ao País. Com um dinheiro que não derretia no bolso, milhões de brasileiros ganharam dignidade e não precisaram mais correr ao supermercado no dia do pagamento do salário. Não existe pior imposto que a inflação, que corrói o poder aquisitivo de quem não tem como se proteger. 

 

Luiz Inácio Lula da Silva compreendeu isto rapidamente e defendeu a moeda com unhas e dentes nos últimos oito anos, mantendo o ortodoxo Henrique Meirelles no Banco Central. Até hoje, o Brasil tem os juros reais mais altos do mundo, pois o governo não encontrou maneira mais fácil de controlar as pressões inflacionárias.

 

Apesar dos juros cavalares, a economia do País vai de vento em popa. Enquanto os países industrializados sofrem, o Brasil deve crescer 7,5% em 2010, voltando à casa dos 4,5% em 2011, quando a base de comparação será mais elevada. Segundo o governo federal, o desemprego baixou para 6,2% em setembro, o menor patamar desde o início da série histórica do IBGE, de 2002. Nos Estados Unidos, o índice é de 9,6%. Na Espanha, chega a 20%. Há 1,5 milhão de brasileiros considerados desempregados nas estatísticas oficiais.

 

Segundo a pesquisa Dieese/ Seade, que tem metodologia diferente da do IBGE para calcular o desemprego, a taxa em setembro foi a menor em 21 meses: 11,4% nas sete regiões metropolitanas pesquisadas.  Em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, o índice ficou em 11,5%, o menor para um mês de setembro desde 1992. Na hora de votar, não importa qual é o número mais próximo da realidade. 

 

O fato é que a situação dos trabalhadores melhorou mais ainda no governo Lula e isso teve um impacto decisivo nas eleições. A popularidade do presidente é tamanha que viabilizou a candidatura de uma ministra desconhecida do grande público, que nunca disputou uma eleição na vida e não tem carisma algum. 

 

Dilma ainda não conquistou o coração dos brasileiros, como Lula, mas já está com lugar garantido no bolso da população, especialmente da nova classe média. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama não teve a mesma sorte. Sua popularidade despencou com a crise econômica – uma herança amarga do governo de George W. Bush – e, nas eleições desta semana, Obama corre o risco de perder a maioria democrata no Congresso para os republicanos.