02/06/2004 - 7:00
Marcelo Martins está há seis meses na Votorantim Cimentos. Veio do Citigroup, nos EUA, para comandar a diretoria financeira da maior empresa do grupo de Antônio Ermírio de Moraes. Em seu cartão de visitas, logo abaixo do nome e pouco acima do logotipo da companhia, se lê: ?Chief Financial Officer?. Martins trabalha bem ao lado do dinamarquês Eric Madsen, contratado junto à cimenteira FLS, de Copenhagen, para pilotar a equipe de novos negócios ? time encarregado de encontrar boas oportunidades pelo mundo. Pode acreditar, internacionalizaram de vez a empresa de Antônio Ermírio de Moraes. E não foi à toa. Ela precisa cada vez mais de executivos que conheçam a fundo o mercado externo. De 2001 para cá, a Votorantim Cimentos investiu quase US$ 1 bilhão para se transformar numa multinacional brasileira. Mirou, primeiro, a parte de cima das Américas e saiu comprando cimenteiras e indústrias de moagem nos EUA e no Canadá. Na semana passada, nova tacada: a aquisição da S&W Materials, dona de 14% do mercado de concreto na Flórida. Com as operações internacionais, os Ermírio passam a figurar na lista das 10 maiores empresas de cimento do mundo.
O rápido movimento de internacionalização da Votorantim Cimentos ? em três anos ela somou três fábricas de cimento, 39 usinas de concreto e duas moagens ? foi motivado pela retração do mercado interno, pela diminuição das encomendas externas, mas principalmente pela busca por um novo tipo de atividade: o mercado de concreto, ponta final da cadeia produtiva. ?O concreto é um importante meio de comércio nos EUA. Ao oferecer esse serviço, estaremos agregando valor ao nosso produto e abrindo o leque de clientes?, diz Martins. Com o pé no novo mercado, a VC passa a atender com mais força os grandes consumidores, como empreiteiras que atuam na construção pesada e no setor de obras civis e residenciais.
A opção da VC pela América do Norte não é à toa. Trata-se da região que exibe as mais altas taxas de crescimento no uso de cimento e similares. Apenas nos EUA, o consumo atingiu 112 milhões de toneladas em 2003, aumento de 4% em relação ao ano anterior. O volume americano é três vezes maior que o registrado no mercado brasileiro, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento. Na Flórida, onde se vende 8,5 milhões de toneladas ao ano, as taxas de evolução da indústria são ainda maiores: 6% no último ano em relação a 2002.
É nesse cenário que entra a S&W, dona de um faturamento de US$ 20 milhões e terceira maior concreteira da Flórida. A empresa será um importante canal de distribuição do cimento produzido por outra fábrica da VC nos EUA, a Suwannee, construída em parceria com a americana Anderson Columbia. ?O cimento é insumo do concreto e esta operação conjunta nos dará oportunidade de crescer rapidamente?, afirmou Luiz Vilar de Carvalho, presidente da VC, durante o anúncio da compra da S&W. O presidente também confirmou planos de expansão da coligada. Serão instaladas novas usinas de produção de concreto e há estudos para aumentar a
frota de betoneiras. ?A meta para os próximos anos é continuar investindo na ampliação das atividades internacionais?, afirma Martins. Por ampliação entenda elevar de 3,5 milhões para 7 milhões de toneladas a capacidade de produção de cimento nos EUA. Martins só não revela o valor dos investimentos. Diz apenas que as operações externas respondem por 22% do faturamento da VC, que é de R$ 4,7 bilhões. Em breve, esse percentual tende a aumentar. O presidente Carvalho
já avisou que quer adquirir cimenteiras na Europa. E também contratou uma consultoria para ficar de ?olhos abertos? na pujante Índia.