28/02/2014 - 21:00
Investir dinheiro pode ser uma atividade para pessoas jovens e cheias de energia, mas, nesse campo, a experiência vale, literalmente, bilhões. O ano de 2013 foi difícil para a maioria dos profissionais do mercado financeiro, mas dois veteranos, os megainvestidores Warren Buffett e George Soros, obtiveram alguns de seus melhores resultados no ano que passou. Soros transformou seu Quantum Fund em um “family office” em 2009 (leia quadro “As cincos refras de Buffett”), e Buffett permanece à frente da Berkshire Hathaway. Em 2013, ambos brilharam, permanecendo fiéis ao que sempre fizeram.
Buffett e Soros: experiência dos mestres do mercado ainda garante bons resultados
Publicada todos os anos desde 1977, a carta anual de Buffett aos acionistas da Berkshire é tão reverenciada pelo mercado como os livros sagrados o são para os mais devotos fiéis. Neste ano, no fim de fevereiro, Buffett escreveu um artigo na revista americana Fortune antecipando parte da carta que será publicada na reunião anual, agendada para o dia 3 de maio. Nele, o bilionário que completou 83 anos em agosto passado discorreu sobre algo mais do que o desenvolvimento de sua empresa em 2013. Ele falou como ganhou dinheiro para sua conta pessoal e para seus familiares investindo em imóveis.
Ao explicar o que fez, Buffett reiterou algumas de suas velhas máximas e, pela primeira vez, explicou como faz para avaliar um negócio. Sua experiência de mais de seis décadas investindo fez com que ele desenvolvesse uma sólida maneira de avaliar se um negócio é bom ou não. O bilionário contou a história de como comprou, em 1986, uma fazenda para seu filho mais velho, Howard Buffett. Ele adquiriu a propriedade por US$ 286 mil de um banco regional que havia quebrado por conceder empréstimos sem critério. “Não entendia nada de fazendas e ainda não entendo”, escreveu Buffett, que visitou recentemente a propriedade pela segunda vez em 28 anos.
“Mas meu filho entende bastante do assunto, e demonstrou para mim que a produção de milho e de trigo renderia razoáveis 10% ao ano.” Além disso, Buffett avaliou que, no longo prazo, tanto o preço dos alimentos quanto a produtividade agrícola continuariam crescendo. “Claro, haveria alguns anos ruins, mas que seriam compensados por safras excepcionalmente boas”, escreveu ele. Outra aquisição foi a de um imóvel em Nova York. A oportunidade foi apresentada em 1993 ao bilionário por um amigo, proprietário do imóvel ocupado pelo banco de investimentos Salomon Brothers, quando Buffett era CEO do banco.
Olho no lucro: compre o que entende, ignore as oscilações de preço e o barulho do mercado
e pense na qualidade do negócio por trás da volatilidade das ações
O prédio fica ao lado da New York University, serve de moradia para centenas de estudantes e foi, de novo, comprado após uma bolha de preços do setor imobiliário. “Os aluguéis eram mal administrados, muitos estudantes pagavam pouco, mas esses contratos ruins iriam expirar em nove anos”, escreveu Buffett. “Quando eles terminaram, a rentabilidade saltou, e continua crescendo, ano após ano, proporcionando uma renda segura para meus filhos e netos.” Ao explicar essas duas aquisições, Buffett refere-se sempre a Benjamin Graham, mestre no início de sua carreira. Graham, escreveu Buffett, manteve-se sempre fiel a alguns princípios básicos.
Um deles é avaliar a qualidade do negócio por trás das ações que estão sendo negociadas na bolsa. “Se alguém lhe oferecer algo que você não entende como sendo uma maneira de ganhar dinheiro depressa, responda depressa e diga não”, afirmou o magnata. Outra é ignorar os rumores e as oscilações de humor do mercado. “Algumas pessoas investem em imóveis por décadas e não se preocupam com as oscilações de preços, mas não conseguem resistir à tentação de comprar e vender ações e, na maioria das vezes, perdem dinheiro”, disse ele.
Segundo o magnata, quando ele e seu sócio Charles Munger compram ações, eles pensam nelas como pequenas frações de negócios muito maiores. Em 2008, Buffett diz ter percebido que havia uma enorme recessão à frente e que a maioria das companhias perderia dinheiro. “Mesmo assim, eu e Charlie não pensamos em vender nossas pequenas participações em negócios maravilhosos, pois sabíamos que, da mesma forma que ocorreu com a fazenda do meu filho e os alojamentos dos estudantes, essas empresas continuariam ganhando dinheiro no longo prazo”, escreveu ele. “Afinal, ano após ano, o milho e o trigo continuam crescendo em Nebraska, e estudantes do mundo inteiro continuam vindo estudar em Nova York.”
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Soros mais feroz do que nunca
Fundo pessoal do investidor ganha R$ 5,5 bilhões em um ano especulando com juros e moedas. Ninguém fez igual
Em 2011, antevendo um endurecimento da regulamentação do mercado americano, o megaespeculador George Soros encerrou as atividades do bilionário Quantum Fund, na época com um patrimônio de US$ 30 bilhões. A maior parte desse dinheiro, cerca de US$ 20 bilhões, pertencia a ele, um lobo do mercado que ficou conhecido pela bem-sucedida aposta contra a libra esterlina, que “quebrou” o Banco da Inglaterra em 1992, rendendo a bagatela de US$ 1 bilhão. Soros transformou o fundo em um “family office”, menos sujeito à curiosidade dos reguladores.
Os resultados, porém, permaneceram impecáveis. Segundo um levantamento da consultoria americana especializada em fundos de hedge LCH Investments, em 2013 as apostas em juros e moedas feitas por Soros e seus gestores renderam US$ 5,5 bilhões ao fundo, uma rentabilidade anual de 22%, a maior desde os 32% obtidos em 2007. Com isso, os fundos de Soros atingiram, de novo, a marca de US$ 30 bilhões e tiveram o melhor desempenho do mercado. Na média, os fundos de hedge americanos apresentaram um rendimento de 7,4%.
Assim como Buffett, Soros se ateve ao básico. No seu caso, especulou com as oscilações de moedas provocadas pela gradativa redução da ajuda do Federal Reserve à economia americana. Ao ser anunciada, a decisão levou a uma imediata depreciação de diversas moedas em relação ao dólar, e também pressionou para cima as taxas de juros de alguns mercados importantes. Soros manteve a precisão e a ferocidade típicas ao lucrar com esses movimentos do mercado e dos bancos centrais.