Em um espaço para show lotado em Hollywood, milhares de fanáticos estão em êxtase. Mas a estrela no palco não exite, ela é uma VTuber, fenômeno virtual criado no Japão para conquistar o mundo.

A cantora Mori Calliope, que ganha vida no palco mediante uma ilusão holográfica, representa uma nova geração de artistas muito reais que, no entanto, frente ao seu público, são 100% virtuais.

Essa diva digital de cabelo rosa pertence a uma agência de talentos com sede em Tóquio, que quer exportar seus VTubers para o mundo todo.

“Não gosto da maioria dos ‘streamers’, mas quando descobri os VTubers, achei que era a minha praia. Parecem personagens de ‘anime’, explica Luigi Galvan, um dos 4.000 fãs presentes no show em Los Angeles.

O mercado de VTubing, antes considerado um nicho, pode gerar o equivalente a 4 bilhões de dólares (23,64 bilhões de reais) por ano a nível mundial em 2030, frente aos 1,35 bilhões (7,97 bilhões de reais) de 2024.

Uma das chaves desse sucesso está na identidade visual dos VTubers, que utilizam uma tecnologia que captura o movimento, o que oferece uma experiência mais realista.

Durante as transmissões ao vivo desses ídolos em 2D, os espectadores fazem doações. Alguns gastam centenas de dólares para destacar suas mensagens e chamar a atenção de seu VTuber favorito.

Consultada sob sua forma de avatar, Calliope considera que o mercado americano está pronto para o VTubing.

“Há alguns anos acreditava que não, mas ultimamente sou mais otimista”, explica à AFP a estrela, que conta com 2,5 milhões de inscritos no YouTube.

Crescimento exponencial

Calliope prefere as roupas pretas de estilo gótico, que contrastam com seu cabelo rosa.

Adotar um ‘alter ego’ significa que “as pessoas começam a te ver e a gostar de você pelo que você realmente é”, para além da idade ou do físico, o que permite que os talentos dos VTubers – sejam músicos, jogadores ou narradores – se expressem plenamente, indica.

No Hollywood Palladium, a multidão agita varinhas luminosas rosas para animar Calliope, que faz seu show no exterior, organizada pela Hololive, uma marca gerida pela agência de VTubers, Cover Corp.

A empresa, que está na bolsa de valores, domina o mercado global de VTubing, representando mais de 80 ídolos virtuais, dos quais quase a metade se expressam principalmente em inglês, como Calliope.

No YouTube, os personagens da Hololive acumulam no total 80 milhões de inscritos. Mas o domínio japonês pode enfrentar uma concorrência feroz por parte da Coreia do Sul, alerta Motoaki Tanigo, diretor-geral da Cover Corp.

“Os aspirantes a cantores de K-Pop já são profissionais”, o que torna o país uma potencial mina de ouro de futuros VTubers, destaca.

Os VTubers sul-coreanos “têm boas possibilidades de crescer de forma exponencial”, já que o público americano prefere artistas com experiência. No Japão, no entanto, os fãs costumam apreciar os ídolos novatos, afirma.

Tanigo se nega a comentar a estratégia da empresa na China, tema sensível desde que uma YouTuber virtual da Hololive provocou a ira do público chinês ao se referir a Taiwan como um país.

Tanigo exclui “inicialmente” utilizar tecnologia de Inteligência Artificial generativa para criar novos talentos virtuais.

“Esse negócio se baseia no desejo dos fãs de apoiar alguém por seu talento artístico excepcional. Se sentiriam confusos sem saber o que ou quem realmente estão apoiando”, detalha.

Para existir nesse mundo tão competitivo, alguns VTubers levam seus limites ao extremo, apresentando programas ao vivo quase sem pausa para ampliar a sua audiência.

“Isso pode parecer exploração”, comenta Takeshi Okamoto, professor de estudo de meios na Universidade Kindai do Japão.

Ainda assim, Okamoto, que tem seu próprio ‘alter ego’, VTuber com aparência de zumbi, vê um futuro brilhante para o setor.

“Para o metaverso, por exemplo, pode chegar o dia em que será normal viver como avatares e nossas vidas poderão se fundir mais facilmente com as dos VTubers famosos”, diz ele.