Em meio ao que considera um cenário de ‘incertezas mensais’ e de custos substancialmente elevados, Pedro Bartelle, que chefia a Vulcabras, avalia que a exportação deve seguir sendo uma fatia menor do faturamento da empresa – atualmente na casa dos 5%, ante mais de 15% em anos passados.

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Ao Dinheiro Entrevista, o CEO da Vulcabras analisa que o Brasil é um país ‘produtivo, mas não competitivo’, especialmente pela dinâmica de custos. O executivo também destaca o que considera uma concorrência desleal com o mercado asiático.

A Vulcabras é dona da Olympikus e operadora das marcas Under Armour e Mizuno no país.

“Se nós tivéssemos custos similares ou iguais aos asiáticos, o Brasil não seria só um grande produtor de calçados, ele seria também, novamente, um grande exportador (…) se nós tivéssemos condições iguais de competição, a Vulcabras seria uma grande exportadora de calçados.”

Bartelle considera que ‘há, sem dúvidas, produtos subsidiados’ no mercado doméstico, o que prejudica a concorrência.

“Os sites da atualidade entregam produtos aqui, às vezes de qualidade duvidosa, e também subsidiados por uma produção com custos muito inferiores aos nossos.”

Sobre o fator China, destaca que os custos de produção são cerca de um terço do que os do Brasil. Atualmente metade do custo de produção de um tênis da empresa é com mão de obra, segundo o executivo.

“Não acho que aqui está errado, acho que o ‘errado’ está lá [na Ásia]. O governo precisa prestar muita atenção nessa importação de calçados que vem com condições não igualitárias, vem com uma concorrência desleal. Na nossa associação [Abicalçados], defendemos que o governo olhe para isso, porque seguido, quando existe algum tipo de crise, alguma demanda diminui em algum país, os países emergentes e o Brasil são usados para escoar produção asiática.”

Sobre o rali das ações da Vulcabras

A Vulcabras vive um bom momento em 2025, com alta acumulada de 38% no ano, na esteira de resultados melhores do que o esperado.

No seu resultado trimestral mais recente, referente ao terceiro trimestre de 2025, a companhia anotou lucro líquido de R$ 163 milhões, com R$ 211 milhões de Ebitda e um faturamento de R$ 956 milhões.

Analistas da XP destacaram ‘números fortes’, com crescimento acelerado da receita e sinais de melhora nos desafios temporários relacionados ao pessoal, reiterando recomendação de compra para VULC3.

“A empresa continuou apresentando tendências sólidas de receita em todas as marcas, com pressão na margem bruta devido aos investimentos contínuos em pessoal, enquanto os maiores investimentos em marketing foram compensados pela diluição das despesas de venda”, diz a casa.

“Além disso, apesar de atuar em um ambiente competitivo intenso, a Vulcabras compartilhou indicações positivas para o 4º trimestre, e a diretoria permanece confiante de que os investimentos recentes na fábrica devem se normalizar e apoiar resultados positivos adiante”, completam os analistas.

Vulcabras cresce há mais de 60 meses

Pedro Bartelle frisa que a companhia tem conseguido manter consistência na entrega de resultados, mirando aumento de market share e do ROIC.

“A empresa cresce há 21 trimestres consecutivos. São os melhores resultados do setor, o ano que vem está praticamente mapeado e já estamos trabalhando em 2026 com uma perspectiva muito boa de crescimento.”

Na faturamento da Olympikus, mais de 20% já está endereçado ao mercado de corrida, que vem crescendo nos últimos anos, fruto de esforços de marketing da empresa para aumentar a ‘conexão com a comunidade’.