Na quarta-feira 24, a fabricante de aviões americana Boeing anunciou um lucro de US$ 1,1 bilhão no primeiro trimestre, uma alta de 19,2% em relação aos US$ 923 milhões registrados no mesmo período do ano passado. O resultado, bastante superior às estimativas dos analistas, fez com que as ações subissem 3% naquele dia. Assim como a Boeing, diversas companhias dos Estados Unidos vêm surpreendendo positivamente seus acionistas nos dois últimos trimestres. A confluência entre diversos fatores – uma recuperação sustentada da economia estadunidense, esforços em busca de eficiência das companhias, juros baixos e muito dinheiro em circulação – vem fazendo os preços das ações subirem. 

 

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Da Paulista para Nova York: Joaquim Levy, da Bram: ”os BDR

permitem mais diversificação na hora de investir”

 

Nos últimos 12 meses até a quarta-feira 24, o índice de ações americano Standard & Poor’s de 500 ações, o S&P 500, subiu 20,5%. Nesse período, a valorização do Índice Bovespa foi de magro 0,9%. Pena que o investidor brasileiro que gosta da renda variável tenha de fazer uma razoável ginástica para aproveitar-se desse potencial de valorização. Investir no Exterior requer a abertura de uma conta-corrente sediada fora do Brasil, remeter recursos para fora e ter de tomar cuidados extras na hora de acertar contas com a Receita Federal. Muito trabalho. Ou não? Há pouco mais de um ano, a Bolsa de Valores de São Paulo lançou o primeiro programa de Brazilian Depositary Receipts (BDR) não patrocinados. 

 

Por meio dessa iniciativa, os bancos podem lançar certificados equivalentes às ações de empresas estrangeiras no pregão da bolsa, sem a participação direta das companhias. Os BDR funcionam como ações de companhias brasileiras. A diferença é que são emitidos por bancos sediados aqui, que compram as ações nos Estados Unidos e emitem aqui os títulos garantidos por elas. Ao comprar ou vender um BDR, um investidor em São Paulo ou em Belo Horizonte vai gerar um negócio em Wall Street. Os BDR são negociados em reais em vez de dólares, suas compras e vendas são realizadas por meio das corretoras que já atuam na bolsa e eles são tratados como títulos nacionais em termos fiscais, o que facilita a vida na hora de acertar as contas com o Leão. 

 

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Fabiano Calil, consultor patrimonial familiar: ”com os BDR. O investidor

corre dois riscos, o das ações e o cambial”

 

A única restrição, imposta pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), é que esses papéis só podem ser adquiridos por investidores qualificados, que possam provar a posse de, no mínimo, R$ 300 mil em ativos financeiros. Os resultados, por enquanto, têm sido positivos, semelhantes aos das ações negociadas em Wall Street. Os BDR da Boeing, por exemplo, subiram 26,2% nos 12 meses findos até 24 de abril. Para comparar, as ações da Embraer, única empresa cujas atividades são parecidas com as da Boeing, subiram 4,7% nesse período. “O resultado é bom, e o investidor pode diversificar suas aplicações”, diz o planejador financeiro independente paulista Álvaro Dias. 

 

“A principal vantagem, além do bom desempenho das empresas, é que o investidor pode aplicar em setores que não estão bem representados na bolsa brasileira, como empresas farmacêuticas e de tecnologia”, diz Joaquim Levy, diretor-superintendente da Bradesco Asset Management (Bram). Não é uma vantagem desprezível. Quem tivesse investido, por exemplo, nos BDRs do Google teria tido um ganho de 44,4% em 12 meses. Aplicando em papéis da pioneira Amazon, o ganho teria sido ainda melhor, de 56,2%. Se ainda parece complicado, já é possível trilhar um caminho ainda mais fácil e aproveitar a alta dos BDR investindo em fundos dedicados a esses papéis. 

 

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Fábrica da Boeing em Everett, estado de Washington: bons resultados

justificaram alta de 26,2% nos BDR em 12 meses

 

A Bram lançou um fundo dedicado a esses papéis no início de 2012, e iniciou a captação de recursos em fevereiro de 2013. “Por enquanto, os clientes têm sido principalmente investidores institucionais, como fundos de pensão, mas esse produto está disponível para clientes dos segmentos private e Prime”, diz Levy. “É possível começar a investir com R$ 10 mil.” Outras casas, como Itaú e a gestora independente carioca Investidor Profissional, cujos fundos IP Participações e IP Value Hedge também oferecem fundos que têm esses papéis na carteira. 

 

A justificativa é que as BDR têm permitido aos sócios da IP driblar a valorização excessiva das boas empresas e desviar-se também de setores considerados pouco atrativos, como negócios ligados a commodities ou sujeitos a uma regulamentação governamental excessiva. Para o investidor, a dinâmica é semelhante à de um fundo de ações. Quais os riscos? Segundo os especialistas, os BDR apresentam a volatilidade inerente a qualquer aplicação em renda variável. Os papéis lastreados em ações da Apple, por exemplo, amargam uma queda de 27,4% nas cotações nos 12 meses até abril. Além disso, os investidores em BDR têm de se acostumar com os imprevisíveis solavancos do câmbio. “As ações são negociadas em reais, mas seus preços são influenciados pelo dólar”, diz o consultor patrimonial familiar paulista Fabiano Calil.

 

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