Imaginar Wanderley Nunes, o cabeleireiro da primeira-dama, como um fútil penteador de celebridades é um exercício de puro preconceito. O homem é um empresário. E dos bons, ainda que dê suas escorregadas. Pivô de uma minipolêmica às vésperas do embarque do presidente Lula para a Índia, Nunes faria parte da comitiva oficial com a missão nada diplomática de cuidar do visual de Dona Marisa, mas acabou de fora do que já ameaçava virar um ?avião da alegria?. Contrariado, ficou em São Paulo cuidando dos negócios ? que já não são poucos e vivem uma fase de acelerada expansão. Sob a marca Studio W, reúnem-se quatro badalados salões de cabeleireiros em São Paulo, Campinas e no Rio de Janeiro. Um quinto abre na semana que vem, e conversas com o nova-iorquino Frédéric Fekkai, considerado o mais influente cabeleireiro do mundo, preparam terreno para uma possível parceria da dupla em São Paulo. Paralelamente, seu nome está sendo transformado em marca e vai assinar uma linha completa de cosméticos. Cremes e tesouras à parte, Nunes também prepara sua estréia no ramo da gastronomia. Na boa companhia de Francisco Santos, que fez do Café Antique um dos melhores centros da culinária francesa em São Paulo, vai abrir o restaurante Barbeiro, no Itaim, ponto de destaque no mapa da alta cozinha paulistana.

Nada mal para um ex-engraxate da paranaense Maringá, que cresceu e apareceu nas ruas de São Paulo, virou o cabeleireiro das estrelas e aos 44 anos já pensa na aposentadoria. ?Quero conquistar todos os meus grandes objetivos nos próximos 10 anos?, anuncia Nunes enquanto toma o café da manhã (omelete com muita clara e pouca gema, suco de laranja e nada de carboidratos) e aproveita as últimas horas de sossego antes da abertura da São Paulo Fashion Week na quarta-feira 28. Gisele Bündchen está na cidade e, como muitas das estrelas dos desfiles, tem um encontro marcado com as escovas do ?coiffer?. Glamour é bom e Nunes gosta, mas não é nada que abale a sua rotina e a da esposa no bacanérrimo apartamento do casal no Morumbi, um dos melhores bairros residenciais de São Paulo. ?A Gisele é uma velha amiga. Fui eu que a recomendei para os primeiros ensaios fotográficos?, diz. Celebridades são de fato seu ganha-pão. Clientes como Dona Marisa e Gisele, Rodrigo Santoro e Rubinho Barrichelo, Sandy e Giovana Antonelli fazem sua fama e pagam seus livros de arte, suas cadeiras de designer e seus óculos Steel Dreams.

Mais do que isso, os ricos e famosos são a vitrine que mantém seus salões cheios e cobiçados pelas empresas. Como a Vivo, que sorteia celulares para clientes do Studio W. Ou a Bauducco, que está fechando um acordo para servir panetones e petit gâteaus entre um corte e uma tintura. ?Só comecei a crescer quando deixei de ter um salão para administrar uma empresa?, ensina Nunes. Nas próximas semanas, ele acerta a mudança do ponto que ocupa no mezanino do Shopping Iguatemi para um espaço de mil metros quadrados na cobertura do prédio, que tem o aluguel comercial mais caro do Brasil (R$ 4,6 mil ao ano o m2). Há também uma proposta para montar um salão dentro da Daslu, o templo do consumo dos endinheirados em São Paulo. Mas Nunes garante que só aceita se isto não lhe criar problemas com o Iguatemi. Se quisesse, ele já teria uma rede nacional com dezenas de salões. ?Recebo umas 50 pessoas por mês interessadas em montar franquias no Brasil inteiro?, diz. Sua meta, porém, é ter, no máximo, sete filiais ? para manter a exclusividade: ?Comecei a vida aos sete anos vendendo sonhos (de padaria) na rua, e são sonhos que vou continuar vendendo?.