Formado no MIT, fundador do ProLider e do Instituto Four, instituições dedicadas ao desenvolvimento de lideranças jovens interessadas em desenvolver o Brasil, Wellington Vitorino será uma das atrações da edição da Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros de Harvard e do MIT, em Cambridge (EUA). Ele irá entrevistar Daniel Vorcaro, sócio e presidente do Banco Master, neste sábado, 6, em um painel que debaterá como os jovens empreendedores podem contribuir para transformar o Brasil, através de iniciativas sociais e econômicas.

Como um esquenta para o painel, IstoÉ conversou com Vitorino para conhecer sua visão sobre as oportunidades de acesso que as universidades de ponta dos Estados Unidos oferecem aos brasileiros, seu papel no desenvolvimento de novas lideranças e sua expectativa para a entrevista e o evento.

“O Daniel é uma pessoa jovem, mas que já tem uma visão de contribuir para a sociedade com causas mais amplas. Vamos tratar de temas muito relevantes, como negócios no Brasil, nos Estados Unidos, empreendedorismo tradicional e de impacto e de liderança”, afirma. “Estou muito animado”, afirmou Vitorino.

Confira o bate papo com Wellington:

Como estudante do MIT, você conhece bem o Brazil Conference. O que mais te inspira a fazer parte desse evento?
São os estudantes que estão tendo acesso a uma oportunidade de estudo internacional e organizando uma conferência, em um dos países mais relevantes do mundo, para discutir o Brasil. Tudo é feito de uma forma muito inteligente e dinâmica, para que algo aconteça em prol da nossa nação. O fato de a organização ser feita por estudantes também dá esperança de que essas pessoas poderão voltar ao Brasil para ajudar o país a se tornar mais desenvolvido, igualitário e inclusivo socialmente. Outra inspiração são os palestrantes, principalmente os estrangeiros, que vêm para cá, em grande número, e passam a respeitar o Brasil ainda mais.

Você é um dos pouquíssimo estudantes negros do Brasil cursando MBA no MIT. Como você vê hoje a presença brasileira no instituto, assim como em Harvard?
Historicamente, as universidades americanas, em especial as grandes, sempre tiveram um número muito grande de nacionalidades representadas. Eu, por exemplo, estudei com estudantes de 63 nacionalidades diferentes. Há um número expressivo de pessoas negras, que nasceram principalmente nos Estados Unidos, e houve uma evolução expressiva na última década, considerando um recorte de gênero. Mas pessoas negras brasileiras, ainda são muito poucas. Não por causa das instituições aqui. Mas pela forma como nós, como sociedade, nos organizamos para gerar oportunidades para essas pessoas conseguirem atingir essas vagas.

O que você pessoalmente agrega a esse grupo?
Em duas coisas. Em ajudar a fazer com que a informação chegue aos brasileiros e ser inspiração para que possam ao menos ter uma referência de que é possível atingir esse sonho. O Instituto Four, do qual sou fundador no Brasil, realiza, junto com o Instituto Lemann, o programa Alcance Prep, que foca em preparar pessoas pretas, pardas e indígenas, para que possam fazer mestrados profissionais fora. Recentemente, tivemos aprovações para Columbia, Stanford, para a Universidade da Pensilvânia e Oxford. Com esse tipo de iniciativa, vamos conseguir mudar o quadro de pessoas que estão saindo do Brasil para fazer esse tipo de mestrado.

Sua história é de superação pessoal, mas também de empreendedorismo social. Que atividades você mantém hoje visando dar mais acesso a jovens sem recursos financeiros a educação e oportunidades na vida?
Uma das melhores formas de ajudar as pessoas é apoiá-las a evoluir nos seus sonhos. Eu encontrei uma forma de fazer isso por meio da liderança. Temos o ProLíder, que é o maior programa de formação de líderes no Brasil, o mais relevante. No início, ficávamos só em jovens. Hoje, temos também pessoas com um pouco mais de experiência e idades mais avançada. Além de mais ou menos quatro mil pessoas, nas quais a gente chega neste ano, em 27 estados, além de programas que a gente faz dentro das empresas, para gerar oportunidade para esses jovens que precisam. Nossos programas têm muito o viés de ajudar a complementar aquilo que as universidades fizeram, e ajudar as pessoas a serem aceleradas nas suas carreiras, por meio da liderança.

O cenário econômico apontando para uma queda futura nos juros dos Estados Unidos abre mais espaço para o investimento em países emergentes no Brasil. Como você enxerga as perspectivas para alavancar o empreendedorismo nesse momento e abrir novas oportunidades para investidores no Brasil?
É preciso continuar o processo de desburocratização, que vem acontecendo nos últimos anos. Também é necessária a criação de mais linhas de incentivo para empreendedores e empreendedoras. Isso não depende de investidores internacionais. O BNDES vem fazendo um movimento interessante nesse sentido. Nos Estados Unidos, o empreendedorismo se consolidou porque teve muito estímulo na base e passou a fazer parte da cultura. O brasileiro já tem um espírito empreendedor muito forte, mas isso ainda não está institucionalizado da maneira que deveria, em leis, incentivos, estímulos, fomentos, acesso a crédito. Se conseguirmos fazer isso, o Brasil terá níveis de investimento jamais vistos na sua história. Há uma expectativa de redução dos juros nos Estados Unidos, mas, por outro lado, temos que fazer o nosso dever.

Como o mercado financeiro pode ajudar nesse processo?
Pode ajudar criando produtos e serviços que consigam atender principalmente os pequenos e médios empreendedores e empreendedoras. Porque 30% do PIB vem das pequenas e médias empresas, mas só 7% do crédito do mercado é destinado para esse público. É uma disparidade muito grande.