07/08/2015 - 20:00
Em qualquer grupo de amigos, há sempre um mais corajoso que é o primeiro a pular na piscina. Invariavelmente, de dentro d’água, o destemido mergulhador assume a função de promover a qualidade do entretenimento molhado, não importando a temperatura exterior, invocando a famosa frase: “pode vir que a água está quentinha”. Mal comparando, é mais ou menos nessa função que se encontra o executivo Alain Baldacci, presidente no Brasil da Wet’n Wild, a franquia que inaugurou o setor de parques aquáticos no mundo. À frente de um complexo de 25 atrações, entre piscinas, escorregadores e toboáguas, espalhados por uma área de 116 mil metros quadrados na cidade de Itupeva, no interior de São Paulo, Baldacci quer convencer os brasileiros a frequentarem seu parque aquático no inverno, quando a temperatura média na região, cai de 24° para menos de 19°. “Nosso maior desafio é garantir a rentabilidade o ano todo, porque eu não posso mandar todo mundo embora a toda vez que o verão acaba”, afirma o executivo. “Quero transformar o Wet’n Wild em um centro de entretenimento e eventos, não apenas um parque aquático.”
Localizado há cerca de uma hora de carro da capital paulista, o parque nasceu a partir de um projeto para fomentar o turismo na região, que compreende cidades com grande presença de condomínios de luxo, como Vinhedo, Cabreúva e Louveira. Entre seus acionistas estão a Método Engenharia, uma das principais construtoras do País, o Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa, entre outros investidores, incluindo o próprio Baldacci. No ano passado, o faturamento da empresa foi de cerca de R$ 50 milhões. O Wet’n Wild foi o primeiro parque aquático dos Estados Unidos, inaugurado em 1977, em Orlando, na Flórida. A franquia foi criada pelo empresário americano George Millay, morto em 2006, fundador do SeaWorld, parque famoso mundialmente pelos shows com as baleias orcas. Em junho deste ano, no entanto, o grupo de mídia e entretenimento NBCUniversal, seu atual proprietário, anunciou o fechamento do Wet’n Wild de Orlando. Localizado em uma área nobre da cidade americana, o empreendimento deve dar lugar a um hotel.
A empresa, que controla a rede de parques Universal, está construindo outro parque aquático, o Volcano Bay, em uma área mais afastada, próximo a um de seus resorts. Mesmo em vias de fechar as portas, o Wet’n Wild americano ainda figura entre os mais populares do país. No ano passado, foi o quarto mais frequentado da Flórida, atraindo 1,3 milhão de visitantes, segundo o jornal local Orlando Sentinel.
No Brasil, o número de visitantes do Wet’nWild atingiu a marca de 2,5 mil por dia, de acordo com Baldacci, o que já garante a possibilidade de manter o parque aberto durante o ano inteiro. A média de público vem crescendo graças a investimentos feitos em atrações “secas”, como um centro de eventos voltados para empresas. “Temos clientes corporativos que fazem eventos para seus funcionários, com mais de duas mil pessoas”, diz Baldacci. O prédio, localizado ao fundo do parque, é moderno, com divisórias que permitem realizar desde convenções de grandes empresas, até festas de casamento e de formatura. Outra aposta é uma área de piscinas e toboáguas coberta e climatizada, voltada para crianças, construída em parceria com a Maurício de Sousa, que traz o personagem Cascão, da Turma da Mônica, como atração. O espaço vem atraindo mais frequentadores no mês de julho, tradicionalmente fraco. De uma jacuzzi, os pais podem assistir seus filhos brincarem nos escorregadores, sem passar frio.
O desafio, agora, é convencer os turistas daqui de que frequentar os parques no País é tão bom quanto nos Estados Unidos. O brasileiro é o segundo maior frequentador dos parques temáticos da cidade de Orlando, atrás apenas dos americanos. Essa é uma mostra do potencial desse mercado. A questão é que o setor parece estar demorando a engrenar. Dificuldades com a legislação trabalhista, que não favorece a contratação de trabalhadores temporários, crises econômicas e alguns modelos de negócios equivocados explicam a montanha russa que é o desenvolvimento do segmento no País. “Comecei a trabalhar com parques em 1981 e imaginava que o mercado teria um desenvolvimento semelhante ao dos shopping centers”, afirma o executivo. “Ficamos um pouco para trás. Mas dá para recuperar o tempo perdido.”