14/01/2021 - 11:45
“Wikipedia é o maior bem público digital que a Internet nos deu”. A enciclopédia online gratuita, um dos últimos “dinossauros” da internet libertária e participativa, completa 20 anos com vários desafios pela frente.
A Wikipedia é “um pequeno milagre” em um momento em que triunfam as grandes empresas de tecnologia digital e a Internet comercial, diz o historiador Rémi Mathis, ex-presidente da associação Wikimedia França.
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Criada, sem fins lucrativos, em 15 de janeiro de 2001 pelo americano Jimmy Wales, a ambição da Wikipedia é reunir na mesma plataforma online o conhecimento do planeta graças a milhões de colaboradores voluntários.
Seu sucesso foi imediato. Primeiro, um site em inglês foi criado, mas outros idiomas logo o seguiram, como espanhol, alemão, francês ou russo.
Nos próximos anos, Wales espera que a Wikipedia se espalhe para os países em desenvolvimento.
“É muito importante que o próximo bilhão de pessoas que acessem a Internet queira contribuir”. O fundador, entrevistado pela AFP, sonha com uma “instituição que durará tanto (…) quanto a Universidade de Oxford”.
A Wikipedia, o sétimo site mais visitado do mundo, tem mais de 55 milhões de artigos publicados em 309 idiomas. O conteúdo de cada site é autônomo: não há traduções, mas contribuições originais, às vezes completadas por robôs a partir de dados públicos.
– Falta de diversidade –
Ao contrário das enciclopédias tradicionais, escritas por especialistas renomados, esta coleção de conhecimento compilado por amadores, muitas vezes anônimos, atraiu inúmeras críticas e hostilidade de certos círculos acadêmicos.
“Quando sabemos mais sobre como a Wikipedia é controlada, como os artigos são escritos e como a comunidade se comunica, podemos considerar que há um nível geral de confiabilidade que é importante”, defende Lionel Barbe, professor da Universidade de Paris-Nanterre.
Mas há um problema de diversidade nas fontes e nos tópicos cobertos, porque a maioria dos colaboradores é de países ocidentais.
“Os contribuintes geralmente são moradores de cidades com diplomas”, diz Rémi Mathis, autor do livro “Wikipédia: Dans les coulisses de la plus grande encyclopédie du monde” (“Wikipedia: Nos bastidores da maior enciclopédia do mundo”, em tradução livre).
“80% ou mais dos artigos da Wikipedia são escritos por homens brancos”, aponta Marie-Noëlle Doutreix, professora da Universidade de Lyon 2.
– Um refúgio? –
Apesar de tudo, em um período de domínio das Gafam (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft), a enciclopédia online é uma das poucas sobreviventes da utopia colaborativa da internet libertária, concebida como “uma rede descentralizada de compartilhamento de conhecimento”, diz Lionel Barbe.
Para Barbe, “a Wikipedia é o maior bem público digital que a Internet nos deu”.
“Não nos desviamos de nossa missão para obter mais receita, então não enfrentamos esses problemas que vemos hoje, essa questão dos algoritmos”, ressalta Jimmy Wales.
“Por razões comerciais da Internet, é bom que a Wikipedia continue”, diz Marie-Noëlle Doutreix. “O Google promoveu a visibilidade da Wikipedia, mas em troca usa seus artigos em seu mecanismo de busca e obtém muito tráfego graças a esta enciclopédia”.
Alguns também gostariam de se inspirar em seu modelo original de moderação comunitária em face da circulação massiva de informações falsas nas redes sociais.
“Também não devemos acreditar que a Wikipedia nos salvará de nossos próprios demônios. Ainda é uma ferramenta. Se você gosta da conspiração, duvido que a Wikipedia o mantenha longe dela”, tempera Lionel Barbe.
Nos próximos anos, a Wikipedia enfrentará dois grandes desafios: continuar a encorajar mais e mais “enciclopedistas” e continuar a moderar seu próprio conteúdo e discussões internas.