Uma era chega ao fim na Alemanha com as eleições deste domingo e a saída anunciada do governo do ministro de Finanças Wolfgang Schäuble, valorizado em seu país, mas temido e às vezes odiado na Europa por seu rigor orçamentário.

Schäuble vai deixar seu cargo e se tornar presidente da Câmara dos Deputados, indicou nesta quarta-feira seu partido, a União Democrata Cristã (CDU, conservador).

Aos 75 anos, Schäuble ocupava este cargo há oito e aceitou a vaga na presidência da Câmara após o mau desempenho dos conservadores alemães nas legislativas de domingo.

“Vamos propor Wolfgang Schäuble” para este cargo e “comemoraríamos se estiver disposto a se apresentar como candidato”, indicou em um comunicado o chefe do grupo parlamentar dos conservadores, Volker Kauder.

Schäuble, uma importante figura em seu partido e apoiador incondicional da chanceler Angela Merkel, tinha sido alvo de pressões “amistosas” de seu próprio partido nos últimos dias para deixar seu posto no futuro governo.

O até então ministro simboliza, dentro da Alemanha, o rigor orçamentário, mas no resto da Europa foi criticado algumas vezes por ser excessivamente ortodoxo e pouco flexível em matéria de finanças públicas.

Foi Schäuble quem defendeu a saída da Grécia da zona do euro em 2015, em plena crise da dívida.

– Novo governo: um quebra-cabeças –

A formação do novo executivo será muito complexa, um verdadeiro quebra-cabeças, porque os conservadores precisam do apoio não só dos liberais do FDP, que almejam a pasta das Finanças, mas também dos ecologistas.

Os social-democratas, por sua vez, após registrarem o pior resultado eleitoral da história, optaram por uma “cura da oposição”, após terem governado em duas ocasiões na coalizão dos conservadores nos últimos 12 anos.

Os liberais não escondem sua ambição de ocupar as Finanças. Ao deixar o cargo livre, Schäuble vai facilitar a vida de Merkel, debilitada após os resultados do partido no domingo.

O líder do FDP, Christian Lindner, de 38 anos, tuitou seu apoio ao ministro para ocupar a presidência do Bundestag, qualificando-o como “personalidade excepcional”, dotado de uma “autoridade natural”.

Contudo, apesar da intransigência de Schäuble, sua saída do governo não é necessariamente uma boa notícia para os sócios da primeira economia europeia.

O FDP poderia ser ainda mais duro em matéria de finanças, se ficar com a pasta.

O partido não esconde sua desconfiança ante a proposta de reformas da zona do euro formuladas pelo presidente francês Emmanuel Macron, em particular quanto à criação de um orçamento comum, o que os liberais interpretam como uma tentativa de dividir as dívidas da região.

– Um europeísta convicto –

Segundo o jornal Bild, a própria Merkel teria pedido ao seu fiel escudeiro para se tornar presidente do Bundestag, já que esse cargo terá maior relevância com a chegada de mais de 90 deputados do Alternativa para Alemanha (AfD), alguns dos quais se destacam por declarações racistas, ou por não compartilhar o arrependimento pelo passado nazista do país.

A AfD, de extrema direita, provocou um terremoto político no país ao obter quase 13% dos votos nas legislativas, sendo a terceira força, atrás dos conservadores e dos social-democratas.

Schäuble, por sua vez, nascido em 1942 em Fribourg-en-Brisgau, perto da fronteira com a França, é uma das raras personalidades políticas alemãs que viveu a guerra, apesar de ser muito novo na época.

Nela, está enraizada a convicção europeia deste jurista, que sonha em voz alta com uma federação na Europa. Desde 2010, lutou para manter a integridade da zona do euro, apesar da saúde fragilizada desde que foi alvo de um ataque de um homem perturbado em 1990, que lhe deixou na cadeira de rodas.