15/05/2010 - 6:29
O diretor Woody Allen apresentou neste sábado no Festival de Cannes sua comédia mais recente, “You will meet a tall dark stranger”, que reúne Antonio Banderas, Naomi Watts, Anthony Hopkins e Josh Brolin e aborda os temas que representam a obsessão do cineasta: amor, sexo, traição e o medo da morte.
Exibido na mostra oficial de Cannes – mas como todos os filmes de Allen fora de competição, a pedido do diretor -, o longa-metragem é uma comédia que mostra as idas e vindas das relações complicadas de um grupo de casais em crise e que, no fim, deixa um sabor ácido.
Como a vida é sempre muito difícil, melhor viver de ilusões e mentiras, somente assim é possível ser feliz, parece afirmar Allen no filme.
A impressão foi confirmada pelo cineasta após a exibição para a imprensa de “You Will meet a tal dark stranger” – o quarto longa do diretor filmado em Londres -, e foi recebido com aplausos neste sábado.
“Esta é minha perspectiva da vida, que a vida é sempre uma experiência obscura, dura, dolorosa, um pesadelo”, declarou o diretor de 74 anos.
“A única maneira de sobreviver é mentir, mentir. Do contrário, a vida se torna insuportável”, completou em uma entrevista coletiva.
A tese sobre o lado absurdo e cruel da vida é ressaltada no filme pelo narrador, que faz em off uma citação a “Macbeth”, de Shakespeare: “A vida é um conto cheio de som e fúria, contado por um louco e que não significa nada”.
Os protagonistas do filme são um escritor frustrado (Broslin) que se apaixona pela vizinha (Freida Pinto), que vê pela janela; a sogra dele (Gemma Jones), que acredita em videntes, e o marido desta (Anthony Hopkins), que a abandona e se casa com uma jovem (Judy Punch), que o trai com um professor de academia de ginástica.
Naomi Watts, a esposa do escritor, sonha com um romance com o proprietário de uma galeria de arte (o espanhol Antonio Banderas), que por sua vez tem um caso com uma artista apresentada por Watts.
As ambiguidades dos personagens se refletem ainda no título, que pode evocar o encontro com um desconhecido, mas também com a morte.
“Pode ser uma referência ao desconhecido que sempre vamos encontrar, todos nós”, disse o cineasta.
Allen também foi perguntado na coletiva sobre o que pensa da morte.
“Continuo sendo intensamente contra a morte”, declarou o diretor, antes de protestar contra o envelhecimento.
“Falem o que falem, não há nada bom de se tornar mais velho. Alguém fica mais sábio mais sereno. Não há nenhuma vantagem”, insistiu.
“Aconselharia que evitem, se puderem”, declarou o cineasta, que também se queixou do fato de não poder mais desempenhar os papéis românticos em seus filmes.
“Fiz isto durante anos. E gostaria continuar fazendo, ser eu o que senta para jantar com as belas jovens, e olha para elas profundamente nos olhos. Mas fiquei velho para isso”, disse Woddy Allen, que dirigiu mais de 40 filmes, geralmente sucessos de crítica na França e em vários países da Europa, onde seu humor costuma ser mais apreciado que nos Estados Unidos.
Woody Allen e o elenco do filme passarão na noite de sábado pelo tapete vermelho do Palácio dos Festivais, para a estreia mundial do longa.
ame/fp