26/04/2013 - 21:00
O diagnóstico do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, foi preciso: a austeridade atingiu o limite. A previsão do Fundo Monetário Internacional, de uma recessão de 0,3% neste ano na zona do euro, ajuda a confirmar a impressão do comissário europeu. Desde que as medidas adotadas pelos governos da região para ajudar a acabar com a crise iniciada em 2008 fizeram disparar os déficits públicos, o discurso oficial – da União Europeia, do FMI e dos líderes das economias em melhor forma – tem sido o mesmo: é preciso apertar o cinto e reduzir o endividamento a patamares menores.
O problema é que o cinto ficou tão apertado que se transformou num torniquete, asfixiando as economias e reduzindo as chances de retorno ao crescimento – a única medida realmente eficiente para dar um fim à crise. Na Grécia e na Espanha, por exemplo, as medidas de austeridade receitadas pela União Europeia elevaram o desemprego para mais de 27%. Parece óbvio, então, que Durão Barroso está certo. Será? Se a pergunta for feita à líder da maior economia da região, a Alemanha, a resposta será um rotundo “nein”. Cinco anos depois, a chanceler Angela Merkel ainda defende o corte de gastos como a melhor receita para o fim da crise. É verdade que a economia alemã está em melhor situação do que a maioria dos vizinhos.
Enquanto a região está em recessão, o país deve crescer 0,6% neste ano, e o desemprego, que na média europeia está em 12%, atinge apenas 5,4% dos alemães. Reunidos em Washington, há duas semanas, para o encontro de primavera do FMI, ministros da Fazenda do G-20, que reúne as principais economias mundiais, concordaram que é preciso fazer mais do que apertar o cinto para que o mundo retome o caminho do crescimento. “A Europa não cresce”, disse o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega. “E mesmo os emergentes, em melhor situação, estão crescendo abaixo do potencial.” Na última reunião do G-20, prevaleceu a tese de que cortar gastos, apenas, não é suficiente para colocar as finanças em ordem, e menos ainda para estimular o crescimento.
Até o FMI concordou. A diretora-geral do fundo, Christine Lagarde, afirmou que a prioridade da Europa é gerar empregos e que a “consolidação fiscal” deveria acontecer no ritmo certo. Ou seja, sem tanta pressa. Na prática, a chefe do FMI quer dizer que, no momento, recolocar a Europa no mapa da economia é mais importante do que colocar as finanças em ordem. As diferentes declarações nesse sentido marcaram uma mudança no receituário que vinha sendo prescrito até então, de aperto nos gastos. Mas a conclusão da maioria não sensibilizou a líder alemã. Na semana passada, Merkel voltou a insistir na importância da austeridade.
E foi além, dizendo que os países têm que concordar em ceder parte de sua soberania. “Precisamos aceitar que a Europa tem a palavra final em certas áreas”, disse a chanceler. “Caso contrário, não seremos capazes de continuar a construir a Europa.” Com essa visão, Merkel fica cada vez mais isolada. Não apenas em relação a outros líderes mundiais. Em plena campanha para eleições parlamentares na Alemanha, em setembro, ela começa a ser criticada também em seu próprio país. Assim como os europeus mais pobres, os alemães também já começam a pensar que está na hora de soltar um pouco as rédeas do controle fiscal se o continente quiser voltar a crescer.