24/08/2005 - 7:00
A Yamaha resolveu acelerar forte no Brasil. Calma, Honda, isso nada tem a ver com motocicletas. As bolas da vez são pianos, guitarras, saxofones… A Yamaha Musical, maior fabricante mundial do setor e responsável por mais da metade das vendas globais da corporação, quer construir uma fábrica no País. O assunto ainda causa um certo desconforto dentro da empresa, dado o sigilo com que vem sendo tratado.
?Precisamos de mais estudos. Não é urgente?, desconversa Kenichi Matsushiro, presidente da Yamaha Musical do Brasil. Fontes do mercado dizem que a decisão de ter uma linha de produção local, provavelmente em Manaus, já foi tomada. Falta apenas escolher os produtos a serem nacionalizados. Aí sobram opções. A Yamaha produz todos os tipos de instrumentos musicais. ?Nenhum outro fabricante pode equipar, sozinho, uma orquestra inteira. Da bateria ao oboé, nós fazemos tudo?, diz o executivo. ?Uma fábrica desse tipo não sai por menos de US$ 10 milhões?, calcula um consultor.
A música está nas raízes da Yamaha. A companhia nasceu em 1887 fazendo órgãos. As motos só apareceram 50 anos depois e deram origem a Yamaha Motor, hoje uma gigante independente duas vezes maior ? faturou US$ 9,8 bilhões em 2004. A Yamaha Musical, por sua vez, é uma divisão que responde por 57% dos negócios da Yamaha Corporation, cujas vendas anuais somam US$ 5 bilhões. O curioso é que, ao longo de sua história, a Yamaha Corporation foi se desdobrando em uma porção de departamentos aparentemente sem ligação uns com os outros. Além de instrumentos musicais, ela produz microchips para celulares, consoles de carros de luxo, banheiras, gabinetes de cozinha, televisores, equipamentos de áudio, tacos de golfe e é dona de seis resorts no Japão. ?Mas nada é gratuito. Tudo gira em torno da música?, diz Matsushiro. ?A máquina que corta a madeira dos pianos e dos violões também corta os consoles de carro e os armários de cozinha?, afirma. Até alguns instrumentos inovadores nasceram dessa salada. É o caso do Disklavier, um piano que se conecta a internet, baixa músicas e as executa sozinho. E os resorts? Eles são uma espécie de show room. ?Em cada quarto, espaço de shows, banheiro e restaurante oferecemos a oportunidade de as pessoas conhecerem e usarem nossos produtos.?
No Brasil, o que animou o grupo a planejar uma fábrica local foi o rápido crescimento das vendas nos últimos meses. Em 2004, o faturamento chegou a R$ 26 milhões.
E de janeiro a julho de 2005, já houve avanço de 50% em comparação ao mesmo período do ano passado. ?Temos 15% de participação em um mercado altamente pulverizado?, conta Matsushiro. ?Existem mais de cem fabricantes nacionais, que fazem inclusive pianos.? A vantagem é ter uma retaguarda de respeito. A Yamaha patrocina 20 artistas (Zeca Baleiro, Fernanda Porto, Frejat, etc.), aos quais fornece equipamentos gratuitamente em troca de exposição de sua marca. Também tem uma atuação forte no mercado evangélico. ?Fizemos uma pesquisa e descobrimos que são abertos 40 novos templos por dia no País. Em cada um há, no mínimo, um teclado?, diz Carlos Merussi, diretor de marketing da empresa. A Yamaha até começou a prestar serviço de consultoria para igrejas a fim de montar sistemas de som. Existe ainda um curso para formar professores de flauta doce que custa simbólicos R$ 50. ?É importante fazer esse tipo de investimento porque, quem começa com flauta hoje, vai querer uma guitarra ou um piano amanhã?, argumenta Matsushiro. ?Melhor que eles sejam fabricados por nós.?