07/02/2023 - 10:39
Victoria Shypko mora na cidade de Yampil, no leste da Ucrânia. Em sua sala de jantar há um relógio de parede cujos ponteiros avançam na direção oposta. Do lado de fora de sua casa, o barulho da artilharia a recorda da batalha entre os ucranianos e as forças russas.
“Qual é a diferença?”, pergunta em russo enquanto as horas, minutos e segundos voltam, em vez de avançar.
O eco do som da artilharia das forças ucranianas pode ser ouvido pelo vale congelado, uma constante lembrança da batalha travada para o controle das zonas ao redor.
Em abril do ano passado, as forças russas conquistaram Yampil. Entretanto, os ucranianos conseguiram retomar a cidade em setembro.
Seus habitantes temem, agora, uma nova ofensiva russa procedente das colinas ao leste, no início da primavera (hemisfério norte, outono no Brasil).
Shypko, no entanto, não parece muito assustada.
“Se eles (os russos) não atirarem tanto faz para mim”, disse à AFP a ex-enfermeira psiquiátrica de 52 anos.
– Isolados –
Avanços e recuos dos militares na disputada região de Donbass, no leste da Ucrânia, tornaram a vida difícil para os moradores de Yampil, a quase 30 quilômetros da cidade de Kreminna, controlada pela Rússia.
A guerra deixou cicatrizes em toda a vila, que antes do conflito tinha 2.000 habitantes.
Na rua principal, uma antena de telefone está caída no chão. Os habitantes da cidade ficam isolados do resto do mundo, sem sinal.
Os bombardeios destruíram telhados, paredes e quebraram janelas. Os imóveis não possuem energia elétrica há meses.
Tropas ucranianas consertam os veículos do lado de fora de uma casa vazia, que ainda está de pé. Seus moradores fugiram.
Shypko mudou-se para Yampil em 2014, quando as forças ucranianas recapturaram a cidade das forças separatistas pró-Rússia, e não quer fugir.
Ela não tem para onde ir e também não tem dinheiro. Além disso, está com medo. “Se eu saísse (…) as pessoas pegariam tudo. Os militares tomariam a minha casa”, disse.
– Resignação –
Zarichne fica a uma curta distância de carro de Liman, outra cidade disputada. O caminho é estranhamente deserto.
Um soldado ucraniano que se identificou como Sergiy Solomon, 31 anos, também contempla a possibilidade de uma ofensiva russa.
“Os russos têm tanques, veículos blindados e Grads (foguetes), tudo o que você pode imaginar”, disse o homem que trabalhou anteriormente como operário da construção.
“Temos equipamentos, mas não muita munição”, disse ele.
O militar contou que leu sobre um ataque que está sendo planejado contra Liman, para marcar o primeiro ano da invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro.
“Houve rumores de um ataque de Belarus, mas não é uma informação confirmada”, contou.
“Talvez eles simplesmente queiram que levemos nosso exército para lá”, Solomon especulou.
Em Yampil, Shypko mantém-se ocupada com as tarefas domésticas e com o tricô, olhando as horas até às 4h30 da madrugada.
“O que tiver que ser será”, desabafa.