Uma das últimas indústrias a resistir no antigo bairro fabril do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, há mais de 40 anos a York também enfrenta a concorrência das gigantes multinacionais. E, sem fazer alarde, consegue ser inovadora e líder em alguns segmentos de produtos de higiene pessoal derivados de algodão, onde é autosuficiente. Mas, depois de muitos anos de administração familiar, a empresa profissionalizou a direção e prepara novas ações para se manter competitiva em um mercado que cresceu 14% ano passado. A York vende 33% das hastes flexíveis do País, apesar de a Johnson & Johnson ter tornado seu cotonete sinônimo do produto. Na linha de pronto socorro ? algodões, esparadrapos e curativos ?, 25% dos artigos consumidos no País saem da fábrica do Tatuapé. Outras duas outras vertentes, absorventes e cosméticos infantis, ainda significam pouco no faturamento da empresa. Isso, no entanto, deve mudar ainda este ano. É que nos próximos dias a York vai começar a vender também fraldas descartáveis. E, além de preparar novos lançamentos na linha infantil, está comercializando no Brasil os preservativos Prime, da norte-americana Hansel, uma divisão da Du Pont.

?Nossa aposta é que o aumento do poder aquisitivo vai permitir ao povo brasileiro consumir mais absorventes e fraldas descartáveis?, proclama Giovanni Argentini, o engenheiro têxtil de 74 anos que acompanha a empresa desde que ela foi adquirida em 1959 pela família Abdalla e que em julho do ano passado foi nomeado presidente do grupo. Segundo ele, por enquanto, no Brasil, só 25% das crianças usam fraldas descartáveis e apenas 45% das mulheres utilizam o absorvente íntimo. A York foi a primeira a lançar o absorvente aderente à calcinha, no início da década de 70, o absorvente dobrável compactado um a um e a fita dental, no começo dos anos 80. ?Começamos numa época em que absorventes só eram vendidos em farmácias e, ainda assim, em prateleiras escondidas?, relembra Argentini, que não esconde os próximos passos que devem ser dados pelo grupo, que tem também uma fábrica de plásticos em Salto, no interior de São Paulo. O terreno do Tatuapé está numa zona residencial muito valorizada. A linha de produtos de higiene, portanto, deve mudar para outra cidade ou Estado, que cobre menos impostos e dê incentivos, e vai ser mais automatizada.

O principal trunfo da marca é a carteira de 3.800 clientes e as equipes de vendas em todo o País, que faz jus às tradições da família Abdalla. O patriarca, o imigrante sírio Assad Abdalla chegou ao Brasil no final do século retrasado para trabalhar como mascate de tecidos. Em 1889 montou sua própria tecelagem. Os tecidos serviram de base para transformar a York na primeira empresa brasileira a fabricar gase, esparadrapo, aventais, toucas, algodão e outros artigos hospitalares. Quando morreu, em 1950, Assad Abdalla deixou um império que vem sendo tocado por seu filho Ernesto, de 82 anos, hoje presidente do conselho de administração junto com o sobrinho Flávio Jabra. Com faturamento de R$ 90 milhões ao ano ? R$ 42 milhões só na divisão de produtos de higiene ?, o Grupo York é a face mais visível desse império.