16/08/2022 - 5:31
Iryna Tyshenko segura um pequeno dragão de brinquedo que ela fez: esta mulher de 35 anos fugiu da linha de frente e da ocupação russa no sul da Ucrânia para encontrar refúgio na cidade de Zaporizhzhia.
Produzir bichos de pelúcia ajudou sua família a manter a mente aberta durante os longos meses de ocupação russa em Kherson, no sul da Ucrânia.
“Isto nos salvou”, reconhece Natalia Nelybyna, sua mãe, de 68 anos.
A AFP entrevistou a família poucas horas depois de sua chegada a Zaporizhzhia, uma cidade sob controle ucraniano a 250 quilômetros de sua casa em Kherson.
Após três meses vivendo sob a ocupação russa, com alimentação escassa e sem acesso à internet ou a uma linha telefônica, Iryna decidiu fugir com sua mãe e sua filha de 10 anos, Veronika.
As tropas russas assumiram o controle de quase toda a região de Kherson nos primeiros dias da invasão, que começou em 24 de fevereiro.
A cidade homônima de Kherson é uma das maiores controladas por Moscou na Ucrânia.
As forças ucranianas afirmam que que iniciaram um contraofensiva na região e que reconquistaram dezenas de localidades, com ataques contra várias pontes para romper as redes logísticas russas.
“Pedimos às pessoas que saiam. As operações militares não podem acontecer sem que os civis sejam colocados em risco”, afirmou no domingo o governante ucraniano de Kherson, Yaroslav Yanushevich, no centro de deslocados de Kherson em Zaporizhzhia.
“Teremos um inverno rigoroso e precisamos de ajuda para nos salvar do frio e do inimigo, que continuará aumentando a pressão”, disse a vice-primeira-ministra Iryna Vereshchuk.
As autoridades ucranianas afirmaram que no último mês a cidade de Zaporizhzhia recebeu 24.000 habitantes de Kherson.
– “Medo” –
Durante a visita de Vereshchuk ao centro de refugiados, uma mulher começou a chorar.
“Não chore”, disse a vice-primeira-ministra, que abraçou a mulher.
O centro, que recebeu o nome “Ia Kherson” (“Eu sou Kherson”), recebe centenas de pessoas, que podem dormir nos beliches ou descansar.
Anastasia Protasova, 25 anos, relembra sua vida durante a ocupação russa em Kherson, onde afirma ter visto cartazes com a frase “A Rússia está aqui para sempre”.
“Continuávamos encontrando corpos de civis afogados no rio. Não sabíamos o que iria acontecer. Não sabíamos se acabaríamos o dia com vida”, afirma.
Autoridades russas anunciaram a intenção de organizar um referendo para anexar Kherson à Rússia, como já aconteceu com a Crimeia em 2014.
Isto provocou a fuga de muitos ucranianos, segundo Kiev. Mas nem sempre é fácil sair de Kherson.
Antes da guerra, a viagem entre Kherson e Zaporizhzhia durava apenas quatro horas. Agora é necessário um dia inteiro – alguns refugiados precisaram passar vários dias nos postos de controle russos.
Kateryna, 32 anos, explica que os soldados vasculharam todas as suas malas e verificaram computadores e fotografias.
“Eles fizeram perguntas, queriam saber por que eu estava saindo. Eu respondi porque tenho medo”, disse.
Os soldados questionaram: “Do que você tem medo? Não agimos em pessoas como você. Protegemos você”.
“Permaneci em silêncio porque meu filho estava comigo”, explica.