06/09/2022 - 17:16
A usina nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, ocupada por tropas russas, é o foco das preocupações mundiais devido aos bombardeios de suas instalações, pelos quais russos e ucranianos se acusam mutuamente.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) realizou na última quinta-feira uma inspeção do local e, nesta terça-feira, apresentou suas conclusões, afirmando que a situação na maior central nuclear da Europa é “insustentável”.
A AIEA pediu o estabelecimento de uma “zona de segurança” para evitar um acidente nuclear.
Essas preocupações lembram o desastre de Chernobyl de 1986, na Ucrânia soviética, que deixou centenas de mortos e causou uma onda de contaminação radioativa na Europa.
– “Danos importantes” –
A usina nuclear está localizada na cidade de Energodar, no rio Dnieper. Possui seis dos 15 reatores da Ucrânia, capazes de fornecer eletricidade a quatro milhões de residências.
Seus seis reatores VVER-1000, de fabricação soviética, entraram em funcionamento entre 1984 e 1995, com uma potência total de 6.000 MW, de acordo com a operadora energética ucraniana, Energoatom.
Antes da invasão russa, a usina gerava cerca de um quarto da eletricidade da Ucrânia. O país, que dispõe de importantes reservas de urânio, é o sétimo produtor mundial de energia nuclear, de acordo com a AIEA.
O local, próximo da península da Crimeia (anexada pela Rússia em 2014), foi tomado pelas tropas russas em 4 de março, poucos dias depois do início da invasão, em 24 de fevereiro.
As instalações sofreram “danos importantes” e posteriormente “a integridade física” do local foi “violada” reiteradamente, indicou a AIEA.
Em agosto, os bombardeios se intensificaram.
A agência da ONU enumera os danos que constatou na usina durante sua missão. Nas fotos, é possível ver vidros quebrados e tetos desmoronados.
– Usina desconectada –
O relatório informa “com preocupação que os bombardeios podem ter impactado as infraestruturas, os sistemas e os componentes” da usina, cruciais para sua segurança. “É uma ameaça constante”, destacou Rafael Grossi, diretor da AIEA.
Atividades militares danificaram linhas de transmissão e forçaram a usina a ser desconectada da rede elétrica ucraniana na sexta-feira, que agora recebe fluido por meio de uma linha de substituição.
Um incidente similar aconteceu em 25 de agosto.
Atualmente, apenas um dos seis reatores está funcionando, o que produz energia suficiente para resfriar o combustível nuclear e garantir as funções de segurança. Os outros cinco estão em manutenção ou parados.
“Os níveis de radiação na zona seguem normais”, segundo as informações comunicadas à AIEA.
– Equipes sob pressão –
O funcionamento da usina segue sob responsabilidade de equipes ucranianas, “confrontadas a circunstâncias muito difíceis” devido “à presença de pessoal militar russo, de veículos e de equipes em diferentes lugares do complexo”, disse o relatório.
O grupo russo Rosatom enviou especialistas a Zaporizhzhia, “o que poderia provocar interferências e atritos no processo de tomada de decisão”, alertou a agência.
Cerca de 900 pessoas (1.200 em tempos normais) trabalham atualmente na central, em condições extremamente estressantes, concluiu o documento.
– Zona de segurança –
A AIEA, que deixou dois especialistas na usina, pediu o “cessar imediato” dos bombardeios no local e nos arredores “para evitar mais danos às instalações”.
O relatório pede que “medidas provisórias sejam tomadas”, como “o estabelecimento de uma zona de segurança e proteção nuclear”.
Uma proposta que, até o momento, não recebeu aval tanto da Rússia como da Ucrânia.
Um membro da administração russa na região de Zaporizhzhia, Vladimir Rogov, considerou, no entanto, que “para manter a integridade da usina nuclear, é preciso ordenar um cessar-fogo” e não “a simples criação de uma zona de proteção”.