DURANTE DÉCADAS, O BRASIL foi visto como um mercado periférico pelas principais grifes do segmento de luxo. Afinal, diziam os executivos das grandes casas de moda, para que montar uma estrutura na região se as vendas não são tão significativas? Basta ter um bom representante no País. Assim, ele assume os riscos de uma operação, faz o investimento necessário e, de quebra, vende os produtos da marca. Essa maneira de lidar com os negócios, porém, se esgotou. Nos últimos tempos, grifes de renome internacional perceberam a importância de gerir o negócio, sem intermediários, de olho nos altos índices de crescimento da região. Recentemente, a francesa Lacoste encerrou o contrato de 27 anos com a Paramount Têxtil e passou a gerenciar a operação no País. A bola da vez é a italiana Ermenegildo Zegna, tradicional fabricante de ternos, camisas, gravatas e acessórios masculinos. No dia 7 de abril, Ermenegildo Zegna Neto, o CEO da empresa que leva o nome de seu avô, desembarcou em São Paulo para selar a atuação da companhia em terras brasileiras. Agora, a grife, que foi introduzida no Brasil por Eliana Tranchesi e que nos últimos anos era representada pelo empresário Daniel Brett, passa a ser comandada pela própria Zegna.

Brett, que consolidou a marca no País, permanece como sócio com participação de 30%. À Ermenegildo Zegna caberá os outros 70% e a função de dar as cartas no País. ?Agora toda a operação na América Latina será gerida a partir de São Paulo?, disse Zegna em entrevista exclusiva à DINHEIRO. O executivo escalado para expandir a marca na região é o espanhol Juan Aguillar, responsável por ter inaugurado a Zegna na Espanha. Ele cuidará tanto do Brasil como do resto das operações na América Latina. ?Essa é uma prova de que as marcas estão vendo o Brasil com outros olhos?, diz Carlos Ferreirinha, diretor da MCF Consultoria & Conhecimento. Bota outros olhos nisso. Antes de anunciar a chegada com estrutura própria, a Zegna fez um grande investimento em abertura de lojas e remodelação das existentes. Ao todo, são quatro pontos em São Paulo e mais um no Rio de Janeiro. A loja do shopping Iguatemi, por exemplo, foi reformada e a que está cravada na Daslu continua igual. As novidades ficam por conta da loja de 524 metros quadrados aberta na rua Haddock Lobo, nos Jardins, no dia 9 de abril, e de uma outra no futuro shopping Cidade Jardim. ?Até 2010, abriremos uma em Brasília?, avisa Ermenegildo Zegna.

De acordo com profissionais de mercado, cada loja deverá consumir investimentos da ordem de R$ 4 milhões. Para uma marca como Zegna, que possui 525 lojas no mundo (253 do grupo), vende 600 mil ternos, paletós e sobretudos por ano e faturou 843,4 milhões de euros em 2007, é um preço que vale a pena ser pago.

?Agora, eles terão maior controle sobre o atendimento, a disposição das lojas, o atendimento e o produto?, diz Eduardo Tomyia, diretor da BrandAnalytics, consultoria especializada em gestão de marcas. O próprio Zegna confirma a estratégia. ?Precisávamos ter um melhor relacionamento com o cliente?, diz Zegna. ?O Brasil é um mercado que tem crescido a uma média de 20% ao ano.?