Para o CEO e fundador da Zenvia, Cassio Bobsin, a maior pedra no sapato de empresas brasileiras de tecnologia – e um grande obstáculos para termos big techs nacionais – é o custo de capital elevado.

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Ao Dinheiro Entrevista, o empresário aponta que esse fator macroeconômico faz com que as companhias que nascem no Brasil tenham uma filosofia mais conservadora do que pares internacionais que são mais livres para queimar caixa e serem mais agressivas.

“A capacidade tecnológica de quem está aqui no Brasil operando hoje, ela é muito equivalente…..em software, especialmente IA, a qualquer outro lugar do mundo. O Brasil não fica para trás em condições de criar empresas. O problema é que o dinheiro no Brasil é muito caro, então é muito caro errar no Brasil, é muito caro fazer uma estratégia mais agressiva de crescimento”, aponta.

“Com um dinheiro de economias como a americana ou qualquer outra economia mais estável se permite errar muito mais. Então no Brasil não tem espaço para erro. Você tem que nascer já eficiente, tem que nascer reduzindo a quantidade, o risco que você tem de queimar dinheiro à toa”, completa.

Bobsin frisa que essa dinâmica é relativamente perpétua e que mesmo que alguns ciclos façam com que o ecossistema de venture capital jogue dinheiro no mercado, isso ‘seca absurdamente’ – palavras que usa para descrever o cenário atual do mercado de tecnologia, inovação e startups.

“Existe pouco dinheiro disponível para tomar risco no Brasil, e isso já faz um bom tempo. Desde 2021-22 secou esse dinheiro. Então, como é que se empreende? Se o ecossistema governamental, tributário, burocrático é difícil e você tem pouco um dinheiro disponível.”

Atualmente a taxa básica de juros, a Selic, está em 15% e pode permanecer neste mesmo patamar até o primeiro ou segundo trimestre de 2026. Trata-se do maior nível de juros básicos para os últimos 19 anos.

Além disso, o patamar de incertezas – inclusive sobre o campo fiscal – tem reduzido o apetite a risco. Ainda que a bolsa de valores esteja no patamar recorde, desde 2021 nenhuma companhia abriu seu capital no Brasil.

O cenário é ainda mais drástico quando o recorte fica com empresas com estratégias de crescimento mais agressivas, como startups e algumas companhias do ramo de tecnologia.

O movimento é reflexo direto da mudança global no ciclo monetário, após anos de abundância de liquidez e juros baixos que haviam impulsionado o setor entre 2018 e 2021.

O custo de capital subiu de forma expressiva, tornando mais caro captar recursos e reduzindo o fluxo de investimentos em empresas inovadoras. Fundos de venture capital passaram a ser mais seletivos, priorizando negócios com caixa equilibrado e trajetórias de lucro mais próximas. Startups em fase inicial, que dependem fortemente de aportes para crescer, foram as mais afetadas.

As consequências dessa retração foram visíveis: rodadas de investimento encolheram, valuations despencaram e diversas empresas tiveram de reestruturar operações, com cortes de pessoal e fusões – gigantes do ramo que antes levantavam bilhões em aportes passaram a focar na rentabilidade e na preservação de caixa.

O chamado “inverno das startups” tornou-se um marco de ajuste para o ecossistema brasileiro de inovação.

O que faz a Zenvia

A Zenvia é líder de mercado na América Latina e tem sua operação principal seja no Brasil. O core business da empresa é fornecer uma plataforma de experiência do cliente (CX) e relacionamento, operando com Software as a Service (SaaS), com soluções ponta-a-ponta para que empresas gerenciem a jornada do cliente (marketing, vendas, atendimento) através da plataforma “Zenvia Customer Cloud”, e Communication Platform as a Service (CPaaS), Fornecendo APIs (interfaces de programação) que permitem às empresas integrar canais de comunicação (como SMS, WhatsApp e Voz) em seus próprios sistemas.

A empresa é listada na Nasdaq desde 2021. Seu valor de mercado fica na casa dos US$ 73 milhões. No seu resultado mais recente, referente ao segundo trimestre de 2025, a receita total consolidada da Zenvia foi de R$ 285,7 milhões.