29/01/2016 - 0:00
Precisou o ministro da Saúde, Marcelo Castro, afirmar que “o Brasil estava perdendo feio a guerra contra o Aedes aegypti”, constrangendo o governo brasileiro. Foi necessário que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, revelasse a sua preocupação com o avanço do zika vírus e pedisse que laboratórios acelerassem a criação de uma vacina. Não fosse o bastante, a diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, teve de convocar um comitê de emergência para enfrentar o surto da doença, considerado explosivo, próximo de virar uma pandemia.
Só assim o governo de Dilma Rousseff abriu os olhos para o que qualquer brasileiro com o mínimo de sensatez tem visto nos últimos meses: o Brasil tratou o Aedes aegypti, o transmissor do zika vírus, da dengue e da febre chikungunya, com extremo descaso. Em 2013, o governo federal destinou R$ 362,4 milhões para combater o mosquito. Em 2014, reduziu a verba para R$ 150 milhões e – acreditem –, no ano passado, foram apenas R$ 143,7 milhões. As consequências dessa miopia são devastadoras.
Além de ser visto mundialmente como o maior foco de proliferação da doença, o que abala ainda mais a imagem do Brasil, o País selou o destino de milhares de crianças. Comprometeu a vida de brasileiros que, ainda no ventre de suas mães, desenvolveram a microcefalia, uma má formação que deixa o cérebro menor e causa deficiências mentais e motoras para sempre. Até agora, 3.893 casos foram registrados e, de acordo com a OMS, até o fim de 2016, outros 16 mil bebês nascerão com microcefalia.
De promessa de grande potência, o País virou exportador de doença e gastará muito mais do que economizou no combate ao mosquito. O barato, literalmente, saiu caro, e, prestes a sediar uma Olimpíada, o Brasil vê países como França, Holanda, Noruega, Suécia e Estados Unidos pedirem para que seus cidadãos não venham para cá. Vladimir Putin, presidente da Rússia, foi além e classificou a possível pandemia do zika como “uma porcaria vinda da América Latina”. Como bem anotou a revista britânica The Economist, “o Brasil festejará o carnaval no precipício”.
(Nota publicada na Edição 952 da Revista Dinheiro)