Nascido em 1895, o americano George Blaisdell era um inventor de fim-de-semana, desses que se trancam num quartinho sórdido e passam horas lá dentro bancando o Professor Pardal. Mas nem os seus herdeiros conseguem citar uma de suas invenções que tenha vingado. Bom, na verdade, eles citam sim ? o mítico isqueiro Zippo, que está completando 70 anos em 2002. Mas essa não conta, porque Blaisdell não é de fato o pai da idéia. Em 1932, ele até tentou criar um isqueiro para acender cigarros. Queria fazer algo parecido com o modelo austríaco Binga, que vinha com tampa e não se apagava com o vento. Mas percebendo que a criatividade não era o seu forte, Blaisdell largou as ferramentas e resolveu atacar com o seu talento real, o afiado tino para os negócios. Comprou os direitos do Binga, redesenhou o produto e lhe deu um novo nome: Zippo, pois estava encantado com uma nova invenção da época que já fazia sucesso, o zíper. Nascia ali um ícone de consumo norte-americano que, praticamente sem alterações nas últimas sete décadas, já vendeu 375 milhões de unidades em mais de 120 países. Mas a companhia fundada por Blaisdell não parece satisfeita.

 

Sediada em Bradford, Pensilvânia (EUA), a Zippo vem fazendo um trabalho para se rejuvenescer e combater as crescentes campanhas contra o fumo. No Brasil, a idéia é conquistar os consumidores entre 18 e 30 anos e, com isso, crescer 20% sobre os resultados de 2001 ? valor guardado em sigilo pela filial nacional da suíça Victorinox, que representa o Zippo por aqui. A estratégia para o mercado brasileiro é ampliar a oferta dos isqueiros em lojas de equipamento e esporte de aventura. ?Essa modalidade de distribuição foi inaugurada no ano passado e elevou nossa receita em 30%?, conta Alexandre Lazarou, gerente comercial da Victorinox. E que ninguém pense que existe contradição em vender isqueiros para a moçada esportista-natureba que curte acampamentos, caminhadas e, teoricamente, é antitabagista.
?O Zippo não serve só para acender cigarro. Pode ser usado em fogueiras, como sinalizador, vela e até lanterna?, diz o executivo.
A associação do produto ao cigarro começou no cinema. Nos anos 50, galãs como James Dean e Humphrey Bogart faziam charme e pose de mau com um Zippo nas mãos. Foi a explosão da marca.
Mas, antes disso, o isqueiro já tinha funcionado como um
pau-para-toda-obra na Segunda Guerra Mundial. Com ele, os soldados americanos esquentavam a sopa no capacete, iluminavam
a trincheira para escrever cartas e abriam caminho na escuridão. Colecionadores chegam a pagar US$ 4 mil por um Zippo da época. ?Queremos recuperar essa característica, inclusive para atrair também o público feminino, que hoje representa 10% dos nossos consumidores?, afirma Lazarou.

O executivo também pratica um tipo de marketing menos convencional para divulgar os isqueiros no Brasil, onde eles custam entre R$ 70 e R$ 200. Por exemplo: presenteia artistas com Zippos personalizados e espera por um agradecimento em rede nacional
de TV. O esquema envolve até um funcionário da Rede Globo, que caça autógrafos de famosos e os repassa para a Victorinox. A empresa depois estampa a assinatura no isqueiro e manda entregar. Outra tática é apostar nos modelos exclusivos para o País. Já são mais de 30, entre os 500 disponíveis. Entre eles, os que trazem desenhos do Corcovado (Rio de Janeiro), da Pampulha (Belo Horizonte), do Jardim Botânico (Curitiba). O último lançamento
foi o Zippo do ?Penta?. As 2002 unidades produzidas custavam
R$ 70 e evaporaram em três semanas.

Ainda hoje a Zippo é uma empresa familiar tocada pela terceira geração dos Blaisdell. Da fábrica em Bradford saem 80 mil isqueiros por dia. O faturamento não é divulgado, mas estima-se que ele gire em torno de meio bilhão de dólares ao ano. Brent Tyler, porta-voz da companhia, disse à DINHEIRO que 60% da produção é exportada e 20% dos consumidores são colecionadores. São eles que continuam a propagar as inúmeras lendas em torno do produto. Conta-se que Frank Sinatra pediu para ser sepultado com o seu Zippo. E que pescadores tiraram um Zippo da barriga de uma baleia e o isqueiro acendeu na primeira tentativa. Histórias de pescador ou não, são elas que alimentam a chama do isqueiro setentão.