Ovarejo de alimentos no Brasil é dominado por potências do porte de Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour. Isso vale para todas as grandes cidades do País. Menos para a faixa de terra situada entre o mar e a montanha na cidade do Rio de Janeiro. Lá, quem dá as cartas é a rede Zona Sul, fundada pelo imigrante italiano Francesco Leta em 1959. 

Suas 30 lojas, hoje comandadas pelo primogênito Fortunato Leta, estão situadas em bairros que reúnem boa parte dos cariocas endinheirados e onde os pontos de venda custam fortunas. A posição privilegiada e o modelo de negócio diferenciado garantiram seu sucesso. 

 

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Fórmula de sucesso: aposta em produtos importados e refeições prontas para fisgar consumidores endinheirados

 

Enquanto a concorrência focou no setor alimentício convencional, o Zona Sul apostou desde cedo em artigos importados e na área de conveniência, servindo refeições prontas. São itens que possibilitam margem de ganho na faixa acima de 10%, ante os 2,5% da cesta de compras convencional. 

 

Essa liderança, entretanto, será enfim desafiada. Primeiro porque a rede acaba de perder sua principal referência. No final de outubro, Francesco morreu de enfisema pulmonar, aos 84 anos, deixando algumas interrogações no ar. Apesar de afastado da direção há dez anos, o patriarca ainda dava a palavra final nas questões estratégicas.

 

Procurada, a direção do Zona Sul preferiu não se pronunciar. Segundo, porque o Pão de Açúcar decidiu colocar sua bandeira nas lojas que sua controlada Sendas possui nos bairros da zona sul do Rio. “Vamos concluir essa operação até o final de 2011”, diz José Roberto Tambasco, vice-presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar. 

 

A operação está sendo feita em etapas e deverá ser concluída até o final de 2011. Com isso, pela primeira vez, em 51 anos, eles terão um concorrente à altura em sua própria seara. A batalha promete ser árdua. “Não é fácil para uma empresa regional enfrentar a maior companhia do setor”, diz a consultora Heloisa Omine, dona da Shopfitting. “É inegável que o Pão de Açúcar tem um poder de negociação maior com fornecedores e isso pode fazer toda a diferença.”

 

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A ofensiva da família Diniz surge em um momento especialmente delicado para o Zona Sul. No período 2008-2009, o faturamento da empresa cresceu 11,3%. Saltou de R$ 795,2 milhões para R$ 853,5 milhões. O quesito receita por metro quadrado, no entanto, deixa claro que a situação não é das melhores. 

 

Entre os 20 maiores supermercados do País apenas dois apresentaram queda nesse item: o Zona Sul (-21,5%) e o sergipano G. Barbosa (- 4,38%). “O Zona Sul se tornou refém de seu modelo de negócio”, diz Ricardo Scaroni, professor de marketing de varejo da ESPM-RJ. “Eles não têm como se expandir para os bairros populares, sob pena de queimar a marca”, destaca. 

 

Acuada pela concorrência e pela limitação geográfica, a direção do Zona Sul vem ensaiando uma tímida diversificação. Para se beneficiar do aumento da renda das classes C e D ela está testando o formato “atacarejo”, que atende tanto comerciantes como clientes individuais, com a bandeira Mega Box. 

 

A primeira unidade foi aberta em março em Olaria, na zona norte da cidade, e consumiu investimentos de R$ 8 milhões. Ironicamente, o público que a rede sempre negligenciou poderá ser a salvação.