DINHEIRO ? O que é o efeito Facebook?

KIRKPATRICK ? Decidi nomear o livro de O Efeito Facebook porque realmente acredito que esse site ainda não tenha sido plenamente compreendido. Ele é percebido por muitas pessoas como um lugar bobo para pessoas jovens. Poucos notaram a sofisticação por trás dele ou o seu impacto em muitos lugares do mundo. As redes sociais, com o Facebook à frente, provocam um reflexo extraordinário na política, nos governos, na mídia, no marketing, nos negócios, na questão da privacidade, enfim, em tudo. São efeitos reais e muito relevantes. É o que podemos ver na Tunísia, com os protestos que resultaram na deposição de uma ditadura. Meu argumento é de que, se o Facebook não existisse, provavelmente o ditador Zine El Abidine Ben Ali, que estava havia 23 anos no comando da Tunísia, não teria fugido. O Facebook liderou uma revolução naquele país. E esta não é a primeira vez que o site mostra sua força política.

 

 

DINHEIRO ? Mas quem provocou a revolução na Tunísia foi o Facebook ou as pessoas?


KIRKPATRICK ? Sem dúvida que foram as pessoas, mas a principal qualidade do site é ser uma plataforma que dá poder ao cidadão. Em outras palavras, o Facebook não é apenas algo bobo, com o qual as pessoas brincam para passar o tempo, mas sim uma nova forma de comunicação que torna seus usuários capazes de coisas que, sem essa ferramenta, não teriam condições de fazer. Esse poder dado a cada cidadão é o efeito Facebook, que ainda não foi plenamente explorado pelos usuários.

 

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“Saverin é um santo no filme, mas ele não era comprometido com o Facebook”

Andrew Garfield (Eduardo Saverin) e Jesse Eisenberg (Mark Zuckerberg) em cena

 

DINHEIRO – Como as empresas podem se beneficiar do efeito Facebook?


KIRKPATRICK ? O impacto do site nos negócios é tão grande quanto na política, e qualquer negócio pode se aproveitar disso. Para começar, as companhias devem reconhecer que o Facebook é a ferramenta mais eficiente que já existiu para fazer marketing,  graças ao conhecimento detalhado que o site tem de seus mais de 650 milhões de usuários. Isso vale para qualquer área de negócio. Outro ponto é que, assim como os cidadãos estão se tornando mais poderosos com o Facebook, os funcionários terão mais força. O modo de gerir  empresas terá de ser reconsiderado em função dessa mudança de paradigma. 

 

 

DINHEIRO ? Toda empresa deveria ter uma conta no Facebook?


KIRKPATRICK ? Não necessariamente, mas, se uma empresa comercializa algum tipo de produto para o consumidor final, ela perderá uma grande oportunidade se não estiver nessa rede social. Não há motivos para não usar o Facebook para promover o que uma companhia faz. A interação permitida pelas redes sociais com os consumidores é muito benéfica para as corporações. E, se alguma empresa não estiver fazendo isso, é bom ela torcer para que o seu concorrente também não o faça. 

 

 

DINHEIRO ? O fundador do Facebook acredita que a onda da rede social na internet vai mudar os negócios. O setor de jogos online seria apenas o primeiro exemplo de uma grande transformação desse tipo. O sr. concorda com essa ideia? Que outras áreas de negócios podem ser influenciadas pelo site?


KIRKPATRICK ? No começo, o Zuckerberg se mostrou muito surpreso com o sucesso dos games dentro do Facebook. Depois, percebeu que o site tem o potencial de tornar qualquer negócio mais social, interativo e participativo, de modo que isso provoque grandes consequências em empreendimentos já estabelecidos. Isso é verdade não apenas para empresas que trabalham na internet, mas para qualquer companhia. O Zuckerberg está empenhado em tornar o Facebook uma plataforma social universal da internet, uma espécie de web dentro da web. Se conseguir isso, tornará o site ainda mais poderoso.

 

 

DINHEIRO ? O sr. já comparou Mark Zuckerberg a Bill Gates e a Che Guevara. Afinal, quem é Zuckerberg?


KIRKPATRICK ? Zuckerberg se tornou acidentalmente um Che Guevara. É um revolucionário da era das redes sociais, mas só o é porque é um ótimo programador que quer mudar o mundo, torná-lo mais aberto, como ele próprio não cansa de repetir. Só que Zuckerberg é talvez mais eficiente do que Che Guevara ou Martin Luther King. Ele está promovendo uma revolução por meio de códigos de programação que tornam as pessoas mais poderosas. Zuckerberg tem muito de Bill Gates também. O fundador da Microsoft não criou sua companhia para ficar rico, mas para mudar o mundo. Ele queria levar o computador a todas as casas, algo no qual foi muito bem-sucedido. O mesmo vale para o Zuckerberg. Sim, ambos estão felizes em ser bilionários, mas essa não era a ideia inicial.

 

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“O Facebook pode ser a empresa mais poderosa do mundo”

Mark Zuckerberg, fundador do Facebook 

 

 

DINHEIRO ? O filme A Rede Social traça um perfil pouco elogioso de Zuckerberg. O que o sr. achou do longa-metragem?


KIRKPATRICK ? Hollywood não tem tradição em ser fiel às histórias que conta, e nesse caso não foi diferente. O objetivo deles era fazer um filme que levasse as pessoas ao cinema, para ver uma história com um saco de pipocas e um copo de refrigerante nas mãos. Dramatizar a realidade é sempre uma opção melhor do que contar a realidade, que costuma ser menos empolgante.

 

 

DINHEIRO ? O Zuckerberg que vemos no filme não é o mesmo que o sr. conhece?


KIRKPATRICK ? Defini-tivamente, não. E esse é um dos maiores erros do filme. Zuckerberg é tímido e não gosta de falar em público. No filme,  é retratado como um sujeito carente e vingativo; ele não é assim. Também não é verdadeira a caracterização de Sean Parker, ex-presidente do Facebook, ou a do brasileiro Eduardo Saverin (o primeiro financiador do site), que parece um santo no filme.

 

 

DINHEIRO ? Qual a sua opinião sobre o brasileiro Eduardo Saverin?


KIRKPATRICK ? Ele queria transformar o Facebook em um negócio antes da hora, ideia com a qual o Zuckerberg não concordava. Ele não demonstrou comprometimento com o Facebook. Como resultado, acabou deixando o site.

 

 

DINHEIRO ? Outros sócios de Zuckerberg no Facebook, como Dustin Moskovitz e Chris Huges, também saíram da empresa. Isso significa que ser sócio de Zuckerberg é uma tarefa inglória?


KIRKPATRICK ? Acredito que seja mais fácil ser amigo do Zuckerberg se você não precisar trabalhar com ou para ele. Ele sempre quis ter o controle absoluto do Facebook. Isso pode ser negativo para a empresa. Ele é um idealista, mas, no dia em que morrer ou ficar incapacitado, é difícil saber quem vai assumir a companhia. Mais difícil ainda será saber se essa pessoa pensará o mesmo que Zuckerberg sobre o site. 

 

 

DINHEIRO ? O Facebook vai monopolizar as conexões entre as pessoas na internet? Isso não é perigoso?


KIRKPATRICK ? O Facebook já é um monopólio hoje,  da mesma maneira que o Windows o é para os sistemas operacionais. É muito perigoso que haja uma única plataforma social na web. Há o risco de uma só empresa controlar a identidade de centenas de milhões de pessoas. Vamos ter de esperar para ver como tudo isso vai se desenvolver, mas nada na vida é para sempre. Um dia vai aparecer alguém e criar algo melhor que o Facebook. O problema é que o Facebook provavelmente vai tentar comprar essa empresa, assim como Google, Microsoft e Yahoo tentaram adquirir o Facebook. E dinheiro não será problema para Zuckerberg.

 

 

DINHEIRO ? Quais são as fontes de receita do Facebook?


KIRKPATRICK ? A grande fonte de receita hoje é a publicidade. Só para dar ideia do potencial de retorno, as últimas previsões dão conta de que o faturamento de publicidade do site em 2011 deve ser o dobro do registrado em 2010, que foi de US$ 2 bilhões. Mas o Facebook Credits, um sistema usado para pagamento de bens virtuais ou produtos dentro do site, está ganhando espaço. Esse serviço tem potencial de ser utilizado em qualquer transação comercial não apenas dentro do Facebook ou na internet, mas fora também, como um cartão de crédito hoje. Isso pode acontecer rapidamente. Sem grande esforço, o Facebook pode ser a empresa mais poderosa que já existiu, muito maior do que o Google é hoje. Mas é claro que os governos  estarão atentos às investidas do site.

 

 

DINHEIRO ? O Google não é um rival à altura do Facebook?


KIRKPATRICK ? É um forte concorrente. Analisando apenas o aspecto da publicidade, o portal de buscas trabalha com anúncios para pessoas que querem comprar algo. O Facebook está entrando nesse segmento. Hoje, no entanto, ele se concentra em um passo que antecede a decisão de compra, que é o de estimular a demanda e construir marcas ? esse é um mercado muito maior que o da publicidade tal como é explorada pelo rival. A opinião das pessoas sobre algo é mais valioso do que os algoritmos usados pelo Google, que, aliás, ainda não se mostrou capaz de lançar uma rede social para concorrer com o Facebook. O Zuckerberg é obcecado pelo Google.