07/01/2022 - 11:04
Nos últimos anos, a compreensão e o avanço da pauta de combate ao racismo avançou no Brasil. Primeiro no poder público. Depois, espraiou-se pela esfera privada, principalmente nas grandes empresas.
Em um movimento sem precedentes, o poder público não só liderou como avançou, implementou e mantem-se muito à frente das empresas quanto a questão racial. Basta lembrar que a constitucionalidade das cotas raciais (ações afirmativas) foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal em 2012. A Lei nº 12.711 que estabelece as cotas raciais nas universidades federais, também é de 2012.
A USP, Universidade de São Paulo, última das grandes universidades a adotar o sistema de cotas, o fez em 2016. O primeiro programa de cotas no ensino superior foi implantando na UNB – Universidade Federal da Bahia, em 2004.
Justamente em 2016, ganha força nas empresas as discussões quanto a temática racial, fruto de uma convergência e de uma pressão nacional e internacional, inclusive decorrentes do ESG, que no mundo já é uma construção antiga, mas que ganhou ampla visibilidade no Brasil no decorrer de 2020 e principalmente em 2021.
Mesmo com toda a movimentação no ambiente corporativo nos últimos 5 anos, potencializada pelo caso George Floyd nos EUA e João Alberto no Brasil, avançamos no discurso e na compreensão do problema racial, mas seguimos com intervenções práticas tímidas e sem estruturação de longo prazo, o que reforça o que tem sido a tônica das últimas décadas, culminado em resultados muito aquém do necessário, quando não inexistentes.
Por exemplo, quanto a discriminação salarial entre negros e brancos no mercado de trabalho, onde negros chegam a receber menos da metade do que brancos na mesma função, estamos estagnados há pelo menos 20 anos. Basta olhar o estudo publicado em 2021 pelo IPEA, que mapeou a desigualdade salarial entre negros e brancos no Brasil nas últimas três décadas.
A composição dos quadros das grandes empresas também pouco se alterou. Segundo o Índice de Equidade Racial nas Empresas (2021), desenvolvido pela Inciativa Empresarial pela Igualdade Racial, através do DataZumbi (instituto de pesquisas da Universidade Zumbi dos Palmares), com a participação de mais de 40 das maiores empresas do País, homens negros são menos de 10% nos cargos de Gerência e Supervisão, e 3,3% nos cargos de Diretoria e Conselhos de Administração. As mulheres negras são 5,5% e 0,8, respectivamente.
Em meio a um cenário que é já complicado por natureza no Brasil, chegamos a 2022 com uma das mais importantes missões da nossa história recente, a saber: a renovação pelo Congresso Nacional da lei que instituiu as cotas raciais no ensino superior federal brasileiro, a já citada lei 12.711/12.
O ano de 2022 colocará à prova, um verdadeiro tira-teima, do discurso e da compreensão da questão racial nas grandes empresas. Sem a manutenção das cotas nas universidades, certamente sofreremos um dano que afetará várias gerações, além de um retrocesso sem precedentes que certamente afetará os negócios.
Em 2022, queiram as empresas ou não, todos serão tragados para o problema. Apenas o discurso não será suficiente. Sem ação, comunicação, mobilização, convencimento, “advocacy”, ou seja, o destemido avanço para a linha de frente, será melhor nem mencionar o termo inclusão racial e/ou antirracismo em 2022.