20/11/2018 - 16:41
O madeireiro brasileiro Valmir de Campos, de 48 anos, foi sequestrado e assassinato na noite de segunda-feira, 19, pelo Exército do Povo Paraguaio (EPP), grupo terrorista que luta contra o governo daquele país, numa área de matas do departamento de San Pedro, na fronteira com o Brasil. O corpo de Campos, que é sobrinho do prefeito de Coronel Sapucaia (MS), Rudi Paetzold (MDB), foi encontrado na manhã desta terça-feira, 20, pela Força Tarefa Conjunta, grupo de elite das Forças Armadas do Paraguai, criado para enfrentar o EPP.
O brasileiro foi morto no retiro Três Marias, da fazenda El Ciervo, no distrito de Santa Rosa del Aguaray. Conforme a Polícia Civil de Coronel Sapucaia, Campos era morador da cidade, mas possuía terras no lado paraguaio da fronteira, onde fazia extração de madeira. O EPP tem um histórico de ameaças contra os “brasiguaios” (brasileiros estabelecidos no Paraguai) que produzem soja e desenvolvem atividades agropecuárias na região fronteiriça.
Campos foi sequestrado na tarde de segunda, durante um ataque à fazenda onde ele trabalhava com outro brasileiro e três paraguaios. Antes de levar os reféns, os seis homens armados, que usavam roupas camufladas, queimaram barracas de acampamento, máquinas agrícolas e um caminhão que estava na fazenda. Durante a noite, eles libertaram os demais e assassinaram a tiros o madeireiro. Os reféns foram resgatados pela força tarefa.
Panfletos atribuídos ao EPP, encontrados na fazenda, advertem a “quem seja surpreendido cultivando soja ou milho transgênico, será fuzilado”. O mesmo tratamento é prometido “a quem corta árvores e não protege a natureza”. O ministro do Interior, Juan Maria Villamayor, confirmou os ataques do EEP e disse que o grupo terrorista defende o meio ambiente para preservar as florestas onde se escondem. Em 2015, o EPP queimou um trator e matou duas pessoas na mesma fazenda.
Familiares de Campos viajaram para o Paraguai para tratar do traslado do corpo para Coronel Sapucaia. O presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, disse que seu governo espera acabar, em cinco anos, com “grupos criminosos” como o EPP. “Vamos continuar com a luta frontal e sem trégua”, declarou, nesta manhã de terça, em coletiva à imprensa. Ele não descartou possível relação desse ataque com a expulsão do narcotraficante brasileiro Marcelo Piloto, acontecida no mesmo dia. “O crime organizado tem nexos comuns e isso, com o tempo, vai gerar uma estratégia do governo para lutar de maneira mais adequada”, disse.
Guerrilha
O EPP foi criado formalmente em 2008, mas existem registros de ações atribuídas ao grupo rebelde há duas décadas. Seus integrantes seriam habilidosos no uso de explosivos e armas automáticas e teriam relações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Conforme pesquisadores, o grupo reverencia o ditador que controlou o país após sua independência, Gaspar Rodriguez de Francia. O político fechou as fronteiras do país ao comércio exterior para impulsionar o desenvolvimento interno e perseguiu ferozmente opositores.