28/01/2019 - 7:35
Sirlei Gonçalves deixou a própria casa neste domingo, 27, por volta das 5h30 da manhã, só com duas bolsas. À espera de notícias sobre o marido, funcionário terceirizado da Vale que sumiu após o desastre na mina de Brumadinho, ela foi orientada a deixar o imóvel por causa do risco de rompimento de uma segunda barragem da mineradora.
Após tocar a sirene de alerta da Vale logo cedo, autoridades foram até a área residencial para levar os moradores às áreas mais altas, como a Igreja Matriz, o quartel da Polícia Militar e o Morro do Querosene. Segundo os Bombeiros, um novo acidente poderia afetar até 24 mil moradores, além de comprometer o fornecimento de água e luz. O acesso ao centro e a ponte sobre o Rio Paraopeba foram fechados. Nas ruas, o clima era de pânico e parte das famílias se recusou a deixar as casas.
Em nota, a Vale disse ter acionado o alarme ao “detectar aumento dos níveis” da barragem, com capacidade de armazenar um milhão de m³ de água, ao lado do depósito de rejeitos que se rompeu. A empresa fez bombeamento dessa água para fora da barragem, mas o volume extraído não foi informado.
A ameaça de um novo desastre ainda interrompeu o resgate até as 15 horas, quando o risco foi afastado. “Com o passar do tempo as chances de encontrar (pessoas vivas) diminui”, disse o tenente-coronel Flávio Godinho, da Defesa Civil. Um ônibus foi achado com corpos, mas o número de passageiros no veículo não foi informado. As equipes localizaram outro coletivo, mas era necessário maquinário pesado para o resgate.
Houve protesto contra a Vale na praça do bairro Casa Branca, perto das barragens. Apesar da importância econômica da mineradora, segundo os manifestantes, é preciso interrompê-la. “A gente já vinha alertando. Ninguém quis nos escutar”, disse Larissa Guedes. Também houve um ato em frente ao posto do comando dos Bombeiros.
Animais
A tentativa de salvar uma vaca atolada desde sexta mobilizou dezenas de pessoas, mas não teve final feliz. Após policiais, bombeiros e funcionários da Vale tentarem instalar tapumes no local, um grupo de 20 pessoas se embrenhou na lama. Uma corda chegou a ser usada para içar a vaca. Mas uma hora depois, ela foi sacrificada com uma injeção. O Ministério Público de Minas cobrou no domingo da Vale, de forma imediata, o resgate dos animais isolados.
Inhotim
No domingo, o Instituto Inhotim informou que vai ficar fechado até dia 31, em solidariedade às vítimas. O local não foi atingido pela lama.
Primeira vítima
A médica Marcelle Cangussu, de 35 anos, foi sepultada na tarde deste domingo em Belo Horizonte sob grande comoção. Foi a primeira vítima a ser reconhecida. “Morreu fazendo o que mais gostava”, disse a mãe, Mirelle, muito abalada. “Estamos desolados. Completamente sem chão.” Ela havia feito aniversário no dia anterior e trabalhava na Vale desde 2015.
Segundo parentes, Marcelle nunca se mostrou insegura por trabalhar na mina. “O único medo que sentíamos era da estrada, pois ela dirigia meia hora para ir ao trabalho”, disse a mãe.
Em Brumadinho, pelo menos 98 sepulturas já haviam sido abertas e preparadas no domingo para enterros no cemitério Parque das Rosas. Conforme os Bombeiros, 19 corpos haviam sido identificados até a noite de domingo.