29/05/2020 - 14:26
Milhões de atrações turísticas fechadas, sets de filmagem parados e um déficit gigantesco no horizonte: a Califórnia é um dos estados mais atingidos pela pandemia, mas os especialistas concordam que sua economia diversificada liderará a recuperação dos Estados Unidos.
A Califórnia vinha de uma década de crescimento a uma taxa mais alta do que o resto do país antes do coronavírus atingir sua economia, a quinta do mundo, que entrou em colapso com o confinamento.
Embora o fato de as pessoas ficarem em casa e as lojas, restaurantes, praias, parques de diversões e escritórios fechados ajudassem a controlar a propagação do vírus, também desencadeou o desemprego, que passou de praticamente inexistente para 24%, com o pagamento de quase US$ 19 bilhões em seguro-desemprego.
A taxa está acima da nacional de 15% e quase igual ao pico da Grande Depressão de 29 no estado.
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A Califórnia também enfrenta um déficit de US$ 54 bilhões, o que forçará cortes nos programas escolares, sociais, de saúde e de infraestrutura.
“A COVID-19 forçou a Califórnia e as economias de todo o país a enfrentar uma crise econômica aguda e sem precedentes”, disse o governador Gavin Newsom há duas semanas.
As autoridades estão permitindo a retomada gradual dos negócios e, segundo o governador, 70% da economia de US$ 3 trilhões já retomou a atividade sob rígidos protocolos de segurança.
Entretanto, a rotatividade de restaurantes, lojas, revendedores de carros é muito baixa e continuará enquanto o vírus não estiver sob controle.
“Para que essa economia funcione, as pessoas precisam se sentir seguras”, disse Tom Steyer, ex-candidato à presidência e chefe de uma comissão estadual de recuperação econômica, em uma entrevista de rádio.
– As tecnológicas –
A Califórnia é a quinta economia do mundo, à frente da Grã-Bretanha, e representa 14,5% do PIB dos Estados Unidos.
Nesse estado de cerca de 40 milhões de habitantes, operam as empresas muito poderosas do Vale do Silício e os grandes estúdios de Hollywood, agora parados.
Também concentra boa parte da atividade portuária e manufatureira, além de possuir algumas das áreas agrícolas mais produtivas do mundo.
“Com que rapidez a Califórnia sairá disso? Nossa expectativa é que o setor de tecnologia mais uma vez lidere a recuperação nos Estados Unidos, e isso significa que a Califórnia crescerá mais rápido que o restante do país”, avalia Jerry Nickelsburg, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Para Steyer, o crescimento no setor de tecnologia pode não ser suficiente, já que outros estariam em “queda livre”.
De fato, colheitas inteiras foram perdidas e as salas de degustação das adegas estão vazias, os turistas não chegam e os hotéis sofrem.
A pandemia também fez despencar os preços do petróleo, deixando as cidades produtoras em profunda crise. Estádios esportivos não funcionam e salas de concerto como o Hollywood Bowl cancelaram suas temporadas.
Os portos já foram atingidos pela guerra comercial com a China, disse Stephen Cheung, ex-secretário de Comércio de Los Angeles, onde 40% da carga nacional é movimentada.
Desde o início do ano, o volume caiu 15%, o que se traduz em “menos turnos para os estivadores, menos viagens para caminhoneiros e menos horas nos armazéns”, o que significa mais desemprego.
“Não vamos voltar para 2020”, afirmou Steyer. “Queremos ter uma Califórnia mais justa, sustentável e voltada para o futuro, para que possamos passar deste momento difícil e doloroso para algo melhor”.