O diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Portugal defende que a única solução para a baixa taxa de vacinação anti-covid na África é a imunidade natural, que se espera seja alcançável com a variante Ômicron.

“Esperamos que, com a Ômicron, consigamos ter uma imunidade natural em substituição desta ausência da cobertura vacinal. É a única hipótese que nos resta neste momento”, diz Filomeno Fortes, em entrevista à rede Lusa.

+ Ciclo de Coronavac com reforço da Pfizer gera imunidade de 97,3%, diz estudo

No dia 14 de fevereiro de 2020, o Governo egípcio confirmou o primeiro caso de coronavírus no país, que foi também o primeiro caso confirmado na África. Desde então, o continente registou 10 milhões de casos de infecção com o coronavírus e 245 mil óbitos, o que representa 2,5% da morbilidade global e 4% da mortalidade em todo o mundo, embora África represente 17% da população global.

Cerca de um ano após o início da vacinação no continente, e quando no mundo a taxa de vacinação a nível global já ultrapassa os 50%, África continua a ser o continente com menos vacinados e apenas 11% da população tem as duas doses iniciais da vacina, diz o diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).

Perante este cenário, e com a perspectiva, já admitida pela Organização Mundial da Saúde, de o continente não conseguir alcançar a meta de ter 70% da população vacinada antes de 2024, Filomeno Fortes diz que alguns países africanos estão ponderando aliviar medidas de segurança para permitir alcançar a imunidade natural.

Essa possibilidade surge do fato de a variante Ômicron não ser tão letal e conferir imunidade natural a quem é infectado, explica o cientista. Porém, o epidemiologia recorda, no entanto, que, se os países aliviarem excessivamente as medidas de segurança, haverá mais infecção e isso levará a uma sobrecarga dos serviços de saúde, que já estão debilitados.

Portanto, a solução será os países africanos “permitirem que as pessoas se movimentem mais”, mas simultaneamente “reforçar o isolamento dos doentes com medidas paliativas, com medidas de controle e com um acompanhamento domiciliar, sem prejudicar muito as unidades sanitárias”.

Fortes lembra que a imunidade natural através do próprio vírus é algo que “acontece secularmente”, exemplificando que há regiões na África onde 60% ou 70% da população vive com o parasita da malária em circulação em equilíbrio com organismo humano. “Isto é o que se imagina agora com a situação da Ômicron”, conclui.