17/06/2022 - 12:33
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, cuja extradição aos Estados Unidos foi confirmada nesta sexta-feira (17) pelo governo britânico, é visto por muitos como um defensor incansável da liberdade de expressão e por outros como um perigoso divulgador de informações confidenciais.
O australiano, de 50 anos, está há uma década privado de liberdade.
Em junho de 2012, ele se refugiou na embaixada do Equador em Londres para não ser extraditado à Suécia por acusações de estupro, denunciadas pelo jornalista como manobra para entregá-lo a Washington.
Em abril de 2019 ele foi preso pela polícia britânica, quando o presidente equatoriano Lenín Moreno lhe retirou a proteção concedida pelo seu antecessor Rafael Correa. O jornalista foi levado então a uma penitenciária de segurança máxima em Londres.
Com graves problemas de saúde, segundo seus advogados, Assange lutou contra seu processo de extradição iniciado pelos Estados Unidos, que quer julgá-lo por espionagem, acusação que pode lhe render uma condenação de 175 anos de prisão.
Com a assinatura do decreto de extradição pela ministra britânica do Interior, Priti Patel, se dissipa uma de suas últimas oportunidades de escapar do julgamento nos EUA, embora seus aliados tenham afirmado que vão recorrer.
Assange e WikiLeaks ficaram conhecidos em 2010 com as publicações de milhares de documentos secretos que revelarem práticas do exército americano nas guerras do Iraque e Afeganistão. Pacifistas e defensores da transparência o aclamaram por revelar mortes de civis, atos de tortura e operações militares clandestinas.
Mas a divulgação em série dos documentos lhe rendeu também o distanciamento de vários veículos, que inicialmente colaboraram com o jornalista, e acusações de Washington de colocar vidas em perigo com sua irresponsabilidade.
– Eleições americanas e separatismo catalão –
WikiLeaks contribuiu provavelmente com a vitória de Donald Trump ao publicar milhares de mensagens secretas da campanha de sua adversária democrata Hillary Clinton.
Na Espanha, apoiou os separatistas catalães contra o governo central da época, divulgando imagens da dura resposta policial ao referendo de independência clandestino.
Também foi acusado de divulgar “propaganda russa”, mas Assange negou prestar serviço a Moscou: “O WikiLeaks publicou mais de 800 mil documentos relacionados à Rússia e [seu presidente Vladimir] Putin, e a maioria são críticos”, disse.
– “Egocêntrico” e “obsessivo” –
Assange nasceu em 3 de julho de 1971 em Townsville, na Austrália.
Sua mãe, a artista de teatro Christine Ann Assange, se separou de seu pai antes do nascimento de Julian, que em 15 anos viveu em mais de 30 cidades, antes de se estabelecer em Melbourne.
Aluno inteligente, estudou matemáticas, física e informática na universidade, mas não se formou. Se interessou por ciberpirataria e chegou a acessar as redes da Nasa e do Pentágono com o pseudônimo “Mendax”.
Quando o WikiLeaks estourou, foi reconhecido como um gênio da informática e messias da liberdade. Uma biografia do jornalista recebeu o título “O homem mais perigoso do mundo”.
Em seguida, chegaram as críticas. Velhos amigos e colaboradores o descreveram como “egocêntrico”, “obsessivo” e “paranoico”.
Durante seus anos na embaixada do Equador, onde denuncia que todos seus movimentos foram espionados, teve em segredo dois filhos com a advogada sul-africana Stella Morris, com quem se casou em março.
Assange tem pelo menos outro filho, Daniel, de cerca de 30 anos.