08/10/2022 - 15:02
WASHINGTON (Reuters) – O bilionário Elon Musk, dias depois de sugerir um possível acordo para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia que atraiu condenações da Ucrânia, propôs que as tensões entre China e Taiwan poderiam ser resolvidas entregando um pouco de controle sobre Taiwan para Pequim.
“Minha recomendação…seria formar uma zona administrativa especial para Taiwan que seja razoavelmente palatável, provavelmente não deixaria todo mundo feliz”, disse o homem mais rico do mundo, ao Financial Times, em entrevista publicada na sexta-feira.
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Musk respondeu uma pergunta sobre a China, onde a sua empresa de carros elétricos Tesla tem uma grande fábrica em Xangai.
Pequim, que afirma que Taiwan, democraticamente governada, é uma de suas províncias, promete há tempos trazer Taiwan para o seu controle e não descarta o uso de força para isso. O governo de Taiwan se opõe veementemente às reivindicações de soberania da China e afirma que apenas a ilha de 23 milhões de pessoas pode decidir o seu futuro.
“E é possível, acho que provável, na verdade, que eles possam fazer um acordo mais leniente que o de Hong Kong”, disse Musk, segundo o jornal.
A China ofereceu a Taiwan um modelo “um país, dois sistemas” de autonomia, similar ao que Hong Kong tem, mas ele foi rejeitado por todos os principais partidos políticos de Taiwan e não recebeu apoio do público, especialmente após Pequim impor uma dura Lei de Segurança Nacional a cidade em 2020.
O ministério das Relações Exteriores de Taiwan se recusou a comentar as declarações de Musk neste sábado.
Wang Ting-yu, parlamentar sênior do governista Partido Progressista Democrático de Taiwan, que faz parte dos comitês de Defesa e Relações Exteriores do parlamento, criticou Musk em sua página no Facebook.
“Empresas independentes individuais não podem aceitar que seu controle seja uma piada”, disse Wang. “Por que elas casualmente entregam as liberdades democráticas, soberania e estilo de vida de 23 milhões de taiuaneses? Não é aceitável para a Ucrânia, e Taiwan certamente não permitirá isso.”
Uma autoridade sênior de Taiwan, com conhecimento dos planos de segurança na região, disse à Reuters que “Musk precisa encontrar um conselheiro político lúcido.”
“O mundo viu claramente o que aconteceu com Hong Kong”, disse a autoridade sob a condição de anonimato porque não está autorizada a falar com a imprensa. “A vibração econômica e social de Hong Kong terminou abruptamente sob o governo totalitário de Pequim.”
O porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, questionado sobre os comentários de Musk, disse que Taiwan é um “assunto doméstico”, acrescentando que Pequim continuará a aderir ao princípio da reunificação pacífica, ao mesmo tempo em que “esmagaria resolutamente” o separatismo de Taiwan.
A fábrica da Tesla em Xangai representou cerca de metade das vendas globais da montadora norte-americana ano passado. Musk afirmou que a China buscou garantias de que ele não oferecerá o serviço de internet por satélite Starlink da sua empresa de foguetes SpaceX naquela região.
Musk afirmou que considera um conflito por Taiwan inevitável e alertou para seus possíveis impactos não apenas à Tesla, mas também para a Apple, e à economia sob um ponto de vista mais amplo. A entrevista não entrou em detalhes sobre esses comentários.
Mais cedo nesta semana, Musk propôs que a Ucrânia conceda a Crimeia permanentemente à Rússia, que novos referendos sejam realizados sob a supervisão da ONU para determinar o destino de território controlado pela Rússia e que a Ucrânia concorde com neutralidade.
Ele chamou usuários do Twitter para dar opinião sobre seu plano, atraindo críticas do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, que propôs sua própria pesquisa no Twitter: “De qual @elonmusk você mais gosta? O que apoia a Ucrânia (ou) o que apoia a Rússia?”
Por Kanishka Singh e Hyunjoo Jin