Por Ana Mano

SÃO PAULO (Reuters) – O Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina recomendou ao prefeito de Chapecó, João Rodrigues, que ele imediatamente se abstenha de orientar empresários a “sugerir, recomendar, influenciar ou induzir” trabalhadores a votarem em quaisquer candidatos, depois que ele instou líderes empresariais a orientar colaboradores a votar no presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).

A recomendação, feita nesta sexta-feira, é assinada pela procuradora Mariana Casagranda e faz parte de um procedimento investigatório instaurado na véspera em face do prefeito de Chapecó, que é um importante polo de frigoríficos.

A recomendação cita um vídeo em que Rodrigues insta líderes empresariais da cidade a orientar colaboradores a votar em Bolsonaro. “Reúnam os seus colaboradores e orientem eles. O Brasil não pode virar uma Venezuela. E só não vai virar se Bolsonaro continuar presidente do Brasil”, disse Rodrigues no vídeo visto pela Reuters, dirigindo-se à comunidade empresarial local, declarando em seguida o seu nome e cargo.

O prefeito afirmou nesta sexta-feira que o vídeo foi gravado no início desta semana num hotel em Chapecó, onde ele se encontrou com cerca de 70 empresários. Ele nega ter infringido qualquer lei.

“O que vejo é uma ação equivocada do MPT enquadrando todo o setor produtivo,” disse o prefeito, acrescentando que “alguns até podem estar abusando.”

A Reuters havia noticiado o início do procedimento investigatório, que pode se tornar um inquérito civil, com base em informação de três fontes.

O caso do prefeito se soma a outras denúncias de assédio eleitoral contra empresas, que se avolumaram na reta final da campanha presidencial.

Segundo o MPT, são crimes eleitorais a concessão ou promessa de benefício ou vantagem em troca do voto, bem como o uso de violência ou ameaça com o intuito de coagir alguém a votar ou não em determinado candidato.

Mais de 900 denúncias desse tipo haviam sido registradas este ano até quinta-feira, ante 212 na eleição de 2018, de acordo com dados compilados por procuradores do MPT na capital federal.

O MPT em Brasília não quis comentar as declarações de Rodrigues, que reafirma o direito dos empresários de orientar o voto dos seus empregados.

“Claro que o dono da empresa deve conversar com o colaborador. A empresa é dele. O prejuízo é dele se a empresa dele quebrar”, disse o prefeito à Reuters.

Uma das fontes familiarizadas com o caso de Chapecó, que pediu anonimato, já havia dito que a investigação fora desencadeada pelo vídeo, no qual ele se refere ao segundo turno de 30 de outubro, quando Bolsonaro enfrenta o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Com o Lula como presidente, nós vamos enfrentar uma crise gravíssima”, diz Rodrigues no vídeo, alertando os empresários sobre um suposto plano de Lula de elevar impostos para impulsionar programas sociais.

“Ele não está preocupado com a indústria brasileira. Ele quer aumentar a carga tributária para aumentar os programas sociais”, acrescentou.

No final do vídeo, que tem 55 segundos, Rodrigues pede à elite empresarial para colocar “mãos à obra”.

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