Informação sobre encontro com o presidente venezuelano havia sido mantida em segredo pelo Palácio do Planalto. Foco é ampliar relações bilaterais e debater crise política no país.Uma comitiva liderada pelo assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, desembarcou em Caracas na tarde de quarta-feira (08/03) para o primeiro encontro entre representantes de alto nível do governo brasileiro e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, desde o retorno do PT ao comando do país.

A viagem teria sido encomendada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mantida em sigilo pelo Palácio do Planalto, a visita foi divulgada pelo Twitter de Maduro.

“Tive uma agradável reunião com a delegação da República Federativa do Brasil, chefiada por Celso Amorim. Estamos empenhados em renovar nossos mecanismos de união e solidariedade que garantem o crescimento e o bem-estar da Venezuela e do Brasil”, escreveu Maduro na rede social.

A emissora estatal venezuelana VTV transmitiu imagens do encontro e destacou que a visita busca “acentuar as relações diplomáticas entre a República Bolivariana da Venezuela e a República Federativa do Brasil”. A VTV, no entanto, não deu detalhes sobre o que de fato foi discutido.

Segundo apuração do jornal O Globo, o governo brasileiro visa debater temas como a situação política no país vizinho, as eleições presidenciais de 2024 e as relações bilaterais entre ambas as nações.

Além disso, estaria em pauta a dívida de cerca de 1 bilhão de dólares que a Venezuela tem com o Brasil, a maioria – em torno de 80% – proveniente de empréstimos feitos junto ao BNDES.

Parte desse valor – uma parcela de 100 milhões de dólares – está prestes a vencer, o que tem feito com que o governo brasileiro discuta a questão internamente.

Assessor também irá à China

Enquanto Amorim protagoniza a primeira viagem de alto escalão do governo Lula à Venezuela, o responsável pelos negócios brasileiros naquele país, o embaixador Flávio Macieira, está no Brasil. E o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, visita o Paraguai, onde deve se reunir com integrantes do governo de Mario Benítez.

Esses fatores teriam surpreendido membros do Itamaraty, embora Vieira tivesse sido informado sobre a viagem, conforme fontes do Ministério das Relações Exteriores ouvidas pelo Globo. Uma visita de Lula a Caracas e um consequente encontro do presidente brasileiro com Maduro ainda são incertos.

Ministro das Relações Exteriores durante os governos Itamar Franco e Lula, Amorim já acompanhou Lula neste atual mandato do petista em viagens a Washington, Buenos Aires e Montevidéu. E irá com o presidente para a China, o que, segundo o Itamaraty, vai ocorrer na última semana de março.

Relações retomadas

Estremecidas durante o governo de Jair Bolsonaro, as relações entre Brasil e Venezuela foram retomadas com o retorno de Lula à presidência no último dia 1º de janeiro.

Devido a isso, a Assembleia Nacional da Venezuela, de maioria chavista, aprovou por unanimidade a nomeação de Manuel Vadell como embaixador no Brasil, depois que o governo brasileiro lhe concedeu credenciais diplomáticas.

Em 18 de janeiro, a Venezuela já havia recebido Macieira, no que havia sido considerado mais um passo rumo à normalização das relações. O Brasil pretende reabrir sua embaixada em Caracas, fechada em 2020 por Jair Bolsonaro.

Liderança regional

Preocupado com a crise política venezuelana, o governo brasileiro estaria disposto a conversar com integrantes da oposição. Os diálogos, atualmente interrompidos, ocorrem no México e são mediados pela Noruega.

Antes do encontro com Amorim, Maduro se reuniu também em Caracas com o chanceler colombiano Álvaro Leyva. Brasil e Colômbia estariam dispostos a trabalhar pela estabilidade política na Venezuela.

O envolvimento do Brasil nesse tema é discutido também por membros do governo Joe Biden, nos EUA, com foco nas eleições presidenciais venezuelanas de 2024.

Transição política

Enquanto o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, é encarado como um problema e uma ameaça à América Latina pelo governo Lula, o caso de Maduro pode levar o Brasil a atuar na busca por uma futura transição política civilizada, independentemente do resultado das eleições.

No caso de derrota do chavismo, o Brasil espera que a presidência seja repassada ao vencedor legítimo.

Nesta semana, o governo brasileiro também manifestou preocupação com relatos de violações de direitos humanos na Nicarágua, em declaração durante reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suíça, após críticas a Brasília por não se posicionar sobre a deterioração da democracia no país da América Central.

gb/md (EFE, ots)